Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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​Putin e a Bielorrússia

18 ago, 2020 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


Interessa a Putin uma Bielorrússia cada vez mais dependente de Moscovo. E convém-lhe fazer, naquele país, uma demonstração de violência, incluindo militar, para dissuadir os “rebeldes” que começam a ganhar expressão na Rússia.

A Bielorrússia era uma república integrada na União Soviética. Com o colapso do comunismo soviético – a maior tragédia do séc. XX, segundo Putin – a Bielorrússia tornou-se independente em 1991. Três anos depois, as primeiras, e as últimas, eleições livres naquele país colocaram Lukashenko no poder, que manteve as piores características soviéticas.

Mas agora Lukashenko cometeu um erro infantil: exagerou escandalosamente nos números da sua “vitória” eleitoral. Como seria possível ter ele obtido mais de 80% dos votos e a sua opositora, exilada na Lituânia, menos de 10%, quando nas ruas se sucedem enormes manifestações exigindo a demissão de Lukashenko, enquanto as manifestações de apoio ao ditador são relativamente pequenas? Nenhum país democrático aceitará como verdadeiros estes pretensos e fraudulentos resultados eleitorais.

Entretanto, as forças policiais da Bielorrússia lançaram ataques de uma violência brutal contra os pacíficos manifestantes, incluindo espancamentos e torturas. Haverá mais de 7 mil manifestantes na prisão. Mas a brutalidade policial não fez desistir os manifestantes pela democracia, o que revela uma excecional coragem e também o desespero dos que continuam a manifestar-se e a fazer greve.

Claro que Lukashenko recusa repetir eleições, que iriam colocar à vista de todos a sua perda de apoio popular. E rejeita qualquer mediação de estrangeiros.

Lukashenko fala em pretensas ameaças militares por parte de países da NATO. Depois de ter feito campanha eleitoral invocando a necessidade de o seu país manter a soberania contra as veleidades integracionistas de Putin, Lukashenko pediu ajuda a... Putin. A credibilidade do homem está ao nível da sua célebre afirmação, segundo a qual a melhor defesa contra a pandemia é beber vodka.

Putin nem sequer gosta especialmente de Lukashenko. Mas interessa-lhe uma Bielorrússia cada vez mais dependente de Moscovo. E Lukashenko, que manteve no país não só a feroz repressão soviética, como o KGB e outros símbolos da URSS, não se incomodará muito com interferências de Putin. Estavam nas cadeias bielorrussas 32 mercenários russos, ligados a Putin, que agora Lukashenko prontamente libertou, sem qualquer julgamento.

Quanto a Putin, deve lamentar não poder mandar tanques e metralhadoras pesadas para a Bielorrússia, como a URSS fez em 1956 na Hungria, depois na Checoslováquia, na Chechénia, etc. Mas Putin já possui um certo treino de anexar territórios pela força, embora disfarçada. Aconteceu e acontece no Leste da Ucrânia, na Crimeia, na Geórgia, etc.

Como se têm multiplicado, nos últimos tempos, manifestações pró-democracia na Rússia, a Putin convirá fazer, na Bielorrússia, uma demonstração de violência, incluindo militar, para dissuadir os “rebeldes” que começam a ganhar expressão na Rússia.

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