O quarto da bebé estava pronto. O berço montado, o carrinho comprado, as primeiras roupas escolhidas. Havia um conjunto de vestido e sapatilhas cor-de-rosa da Minnie, oferecido por uns amigos portugueses, e outras “coisinhas” enviadas por familiares do Brasil, prontas a estrear.
A gravidez passara sem sobressaltos. A data prevista para o nascimento – quando se assinalavam as 40 semanas – era 4 de março, uma segunda-feira.
Como um despertador programado com nove meses de antecedência, nesse dia, por volta da hora de almoço, Pâmela Araújo, 26 anos, começou a sentir “contrações, dores”. E reparou que a bebé estava a mexer-se “muito pouco”. Filipe Sousa, o marido, ainda brincou e disse que talvez “ela” só quisesse dar um passeio de carro. “Sempre que a gente andava de carro, mexia muito.”
Por precaução, o casal acorreu ao Hospital de Cascais Dr. José de Almeida, onde a grávida era acompanhada. Filipe ficou à espera, Pâmela entrou sozinha.
Numa questão de minutos, fizeram-lhe uma cardiotocografia (CTG), e depois foi vista por duas médicas. “Aquela que me examinou estava em formação, em estágio, a outra ficou sempre sentada. Fez a ecografia, viu que tinha líquido [amniótico] suficiente, fez o exame do toque. Falou que não estava em trabalho de parto”, conta Pâmela à Renascença.
Entre pisar o Hospital de Cascais, ser vista e sair não passou mais de meia hora. “Foi muito rápido.” A imigrante brasileira, que mora na zona da Parede, Cascais, tinha uma consulta pré-natal marcada para 7 de março – quinta-feira –, agendada desde 15 de fevereiro, para o caso de ser necessário fazer a indução do parto.
Pâmela ainda perguntou: “É só isso? Está tudo bem? Posso ir embora?”
As médicas garantiram que “sim”. A grávida confiou, voltou para casa, apesar de ainda ter algumas dores. (O protocolo no SNS dita que se deve esperar até às 41 semanas para desencadear o parto, caso não esteja sinalizado nenhum fator de risco.)
Dois dias depois, 6 de março, Pâmela acordou bem-disposta. Como era hábito, foi dar uma caminhada “pela manhã”. Mas, entretanto, as contrações “começaram a aumentar”. Quando sentiu “um líquido sair, quente”, pensou: “A bolsa rompeu.” O relógio marcava 17h30, “bem na hora que o meu esposo chegou do trabalho”.
O casal pegou logo na mala para a maternidade, preparada de antemão. Estavam já a sair de casa quando Pâmela começou a sangrar. “A gente saiu feliz mesmo, não é? Feliz porque nós íamos voltar com ela nos braços.”
Mal chegou à triagem do Hospital de Cascais, Pâmela foi levada “imediatamente” para um gabinete médico, para fazer uma ecografia. “Já tinham noção do que estava a acontecer, acredito.” Na cara de “deceção” da médica, na “cara de que algo não está certo”, pressentiu algo.
“Ela só falou que não tinha boa notícia, que o coração não tinha batimento”.
A grávida entrou em choque. “Entrei em choro, comecei a gritar: ‘Vocês falaram que estava tudo bem. A minha filha. Vocês me mandaram embora’.”