Em tempos considerado um dos maiores "flops" da história do Barcelona, Ousmane Dembélé encarnou a melhor versão de si próprio para ajudar o Paris Saint-Germain a eliminar o seu antigo clube nos quartos de final da Liga dos Campeões. Pelo meio, foi assobiado, viu camisolas com o seu nome serem queimadas e sorriu perante a adversidade.

Trinta contribuições de golo em 2016/17 convenceram o Barcelona a quebar o seu recorde de transferências. Pagou 135 milhões de euros ao Borussia Dortmund para contratar um jovem extremo francês, que encantava tanto pelos golos que marcava como pelos que assistia.

Ainda assim, nada correu como o esperado nos seis anos de Dembélé na capital catalã. Mais de 15 lesões limitaram o tempo de jogo e a afirmação do internacional francês, que nunca chegou ao nível que lhe era esperado.

Com a chegada de Xavi Hernández ao comando técnico, o cenário mudou e Dembélé tornou-se figura. Marcou oito golos e apontou nove assistências, quase todas na primeira metade da temporada antes de uma nova lesão em janeiro.

Ainda com 26 anos, o PSG decidiu cobrir a cláusula de rescisão de 50 milhões de euros, que o Barcelona aceitou incluir num novo contrato para impedir uma saída a custo zero no ano anterior.

A saída causou mal-estar na Catalunha. Não agradou a ninguém: Dembélé começava a render numa equipa que venceu o título, mas o clube não iria receber uma verba que considerava justa pelo valor atual do extremo.

"Estou um pouco desiludido com ele, mas decidiu ir para o PSG e não há nada que possamos fazer. Perguntei-lhe o motivo para a saída e ele não foi capaz de me dar uma resposta. É uma escolha pessoal e não conseguimos competir com a proposta do PSG", disse Xavi, durante a pré-época.

Não houve mesmo como evitar a saída. Dembélé voltou a França e o sorteio da Liga dos Campeões ditou um reencontro. Não a Camp Nou, atualmente a ser alvo de uma obra de requalificação, mas ao Lluís Companys, o Olímpico de Montjuic.

A eliminatória nem começou de feição para os franceses, no Parque dos Príncipes. O ex-Sporting Raphinha marcou primeiro, mas Dembélé estava fadado para decidir contra o ex-clube.

Aos 47 minutos, rematou colocado e festejou efusivamente, o que não caiu bem nos mais fervorosos adeptos do Barcelona, que garantiram uma receção hostil ao francês na defesa da vantagem de 3-2.

A promessa foi feita e cumprida. À chegada ao Olímpico de Montjuic, os adeptos queimaram antigas camisolas com o nome de Dembélé, assobiaram o francês a cada toque na bola e não faltavam mensagens destinadas ao avançado nas bancadas.

Tudo isso pouco importou quando um cartão vermelho para Ronald Araújo desequilibrou a eliminatória em favor do PSG.

Contra uma equipa em inferioridade numérica, foi uma questão de tempo. O Barcelona até vencia por 1-0, mas não conseguiu segurar o resultado. Dembélé voltou a fazer das suas e empatou a partida, aos 40 minutos. O português Vitinha brilhou com um grande golo e Mbappé bisou para fechar as contas da eliminatória.

Para adicionar ainda mais alguma pimenta, o penálti que dá origem ao terceiro golo do PSG - e que coloca a eliminatória na mão dos franceses - foi cometido por João Cancelo precisamente sobre Dembélé.

Numa temporada em que se tem destacado principalmente pelas assistências, Dembélé viu a sua contagem de golos triplicar na eliminatória frente ao Barcelona. Tinha apenas um remate certeiro em toda a época. Tem agora três.

Foi substituído aos 87 minutos para um coro de assobios. Respondeu com um sorriso e um aplauso para os seus adeptos, já com a eliminatória decidida. Neste primeiro reencontro, Dembélé saiu por cima.