03 jan, 2020 - 18:00 • Redação
O navio-escola Sagres zarpou de Lisboa este domingo, 5 de janeiro, para uma jornada de 371 dias que será uma reedição da viagem de circum-navegação de Fernão de Magalhães, efetuada há 500 anos.
A Marinha Portuguesa partiu do terminal de cruzeiros de Santa Apolónia na manhã de domingo, com regresso marcado para 10 de janeiro de 2021.
O navio português que serve de escola aos cadetes da Escola Naval dará a volta ao mundo, passando por 22 portos de 19 países diferentes. As cidades escolhidas para atracar a embarcação pertencem à rede mundial de cidades magalhânicas - lugares, um pouco por todo o mundo, que fizeram parte da rota estabelecida por Magalhães ou que com ele têm alguma ligação – ou locais onde a presença portuguesa seja ou tenha sido evidente.
Em entrevista à Renascença, o primeiro-tenente Martins Morgado, oficial de relações públicas do navio-escola Sagres desvendou um pouco mais do que se pode esperar desta viagem, que será a maior alguma vez realizada por esta embarcação.
Apesar das enormes diferenças que separam a viagem de Magalhães, no início do século XVI, da que se inicia este domingo, há cuidados a ter e desafios que continuam a ser difíceis de superar. Um deles é a gestão das várias pessoas, que estão confinadas a um espaço limitado, durante muito tempo.
“É sempre um desafio, sobretudo em termos pessoais, mentais, [é preciso] muita inteligência emocional – que agora é um conceito que está cada vez mais em voga – muita capacidade de liderança. Estamos a falar de equipas que, independentemente do número de dias que estão no mar, das condições a que estão sujeitos, têm sempre de cumprir a missão”.
A tripulação a bordo irá variar ao longo de toda a viagem, mas estarão permanentemente 143 elementos da Marinha Portuguesa, mais cadetes da Escola Naval, jornalistas e cientistas de todo o mundo.
O navio tem capacidade para estar em alto-mar, em termos logísticos e de abastecimento, cerca de 35/40 dias. A maior jornada prevista para esta viagem durará 32 dias, entre o Taiti e Punta Arenas, em meados de dezembro, e será a primeira vez, em 82 anos de história, que o navio estará tanto tempo sem vir a terra firme.
A ciência a bordo será uma das grandes novidades, com “vários projetos científicos” planeados, tanto através da recolha de dados meteorológicos e oceanográficos, como para estudo de questões relacionadas com a poluição e as alterações climáticas, nomeadamente, a análise dos microplásticos presentes em organismos vivos.
Em Tóquio, durante os Jogos Olímpicos, o navio Sagres vai ser a “Casa de Portugal”, uma espécie de embaixada flutuante, mas que não é uma experiência inédita. Em 2016, a Marinha Portuguesa já esteve presente no Rio de Janeiro, nos mesmos moldes, e vai repetir a experiência, tendo em conta os resultados positivos e os prémios obtidos.
Quanto a perigos, apesar de assegurar que "não há piratas", o primeiro tenente Martins Morgado, confirma que, mesmo sendo um navio-escola, há armamento a bordo, porque “antes de mais, é um navio da Marinha Portuguesa, portanto, tem de ter capacidade para se defenderem”.
A zona onde estarão mais em alerta será desde “a entrada do estreito de Malaca até à zona das Filipinas”, onde “tem havido assaltos no mar”.
A segurança do navio está garantida, não só pela “equipa de segurança, altamente treinada e especializada”, mas também pela “própria guarnição que está a sofrer treino” e que ao longo da navegação vai “testar a capacidade de reações, as próprias medidas de defesa”. Normalmente, "a capacidade de presença e de dissuasão, com tantas pessoas a bordo, chega, mas em caso de necessidade estamos prontos”, assegura o oficial de relações públicos do navio-escola.
No momento da partida, este tenente que embarca para uma viagem de mais de um ano, já este domingo, confessa não ter superstições, mas no pensamento está sempre “a família e os entes queridos, porque vai ser mais de um ano fora e nem sempre vamos conseguir comunicar com eles”.
Este é outro grande desafio, porque “não dá para ter toda a gente a falar ao mesmo tempo com as famílias, tem que haver muita disciplina, muita camaradagem entre nós. E é muito importante que os nossos entes queridos também compreendam isso, mas, que mesmo assim, nos continuem a dar força”.
Apesar da aventura, o primeiro-tenente realça que o rigor é muito importante. Por isso, na mala leva “muitos uniformes, sobretudo brancos, para estar sempre impecável” e garante que não volta barbudo, porque “a disciplina nunca pode faltar”.
A cerimónia de largada da embarcação acontece este domingo e será presidida pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e estarão igualmente presentes os ministros da Defesa Nacional, João Gomes Cravinho e do Mar, Ricardo Serrão Santos, bem como secretário de Estado Adjunto e da Defesa Nacional, Jorge Seguro Sanches.