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Paulo Morais

Mega armazéns para pobres

28 mai, 2012

Com estas políticas de habitação, o Estado português, em vez de bairros sociais, criou guetos, guetos anti-sociais.

Mega armazéns para pobres

Os bairros sociais deveriam ter contribuído para melhorar o nível de vida das pessoas. Mas, em muitos dos casos, o quotidiano dos seus moradores transformou-se num verdadeiro inferno.

Muitos dos bairros construídos nos anos 60e 70 estão hoje em condições materiais deploráveis. A falta de manutenção fez com que as casas se fossem deteriorando, a sua recuperação física já se torna quase impossível. Já nas décadas seguintes, nos anos 80 e 90, os bairros construídos no âmbito do programa de erradicação de barracas, o famoso PER, também não garantem as condições mínimas de dignidade aos seus inquilinos.

Por regra, a construção é de fraquíssima qualidade. Mas o que é mais grave é que os bairros foram concebidos como mega armazéns para pobres. Permitiu-se a construção de aglomerados gigantescos com mais de mil fogos, nos quais se realojaram famílias de nível económico baixo e em grande precariedade social e cultural.

Numa lógica assistencialista, dotaram-se esses bairros de equipamentos que apenas serviram para fixar os pobres nos seus guetos. Construíram-se creches, infantários, escolas e centros de dia. Assim, as crianças nascem, crescem, drogam-se e morrem nos seus bairros. O tráfico de droga instalou-se, os bandos proliferaram, condenou-se o futuro de muitos jovens.

Com estas políticas de habitação, o Estado português, em vez de bairros sociais, criou guetos, guetos anti-sociais.