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Raquel Abecasis

Quem tem medo da democracia?

18 set, 2014 • Raquel Abecasis

Faz parte das virtualidades da democracia confiar na escolha do povo. Se assim é, deixemos os escoceses – e por que não também os catalães – decidirem o seu destino.

O referendo na Escócia é uma lição de democracia que faz jus ao facto de a Grã-Bretanha ser a mais antiga democracia do mundo.

Digam hoje o que disserem, os escoceses tiveram a possibilidade de o decidir democraticamente e isso em si, numa Europa que gosta de se gabar dos seus pergaminhos democráticos, mas onde a opinião dos cidadãos é sistematicamente deixada para segundo plano, não deixa de ser um factor a louvar e mais uma lição que devemos aos britânicos. Ao deixar os escoceses decidir em liberdade, Londres está provavelmente a dar o mais forte argumento para a manutenção da Escócia na União.

Posto isto, há que pensar no amanhã. Se os escoceses disserem sim, o mundo há-de adaptar-se com mais ou menos rapidez. Mas um resultado positivo no referendo pode desencadear uma bola de neve, que ninguém sabe onde vai parar, seguramente fará muitos estragos aqui ao lado na nossa vizinha Espanha. Estragos que têm consequências incertas para nós, portugueses.

É certo que, hoje em dia, por motivos sobretudo económicos, habituamo-nos à ideia de que a incerteza e má conselheira, mas para um país como o nosso, que tem a enorme vantagem de ser um país uno, sem quezílias independentistas e com as mesmas fronteiras há 900 anos, pode até ser que dessa incerteza surjam boas notícias para esta pequena nação sem problemas de identidade. Até porque as certezas que temos pela frente – dívida e défice – não são animadoras.

Faz parte das virtualidades da democracia confiar na escolha do povo e ter a certeza de que a decisão dos cidadãos é soberana e deve ser respeitada. Se assim é, deixemos os escoceses – e por que não também os catalães – decidirem o seu destino.

Aconteça o que acontecer, só pode vir a fortalecer uma Europa que se quer de cidadãos livres.