Grande parte das reacções ao relatório do FMI corresponde a grupos de interesses, que capturaram o Estado. Se o Governo não for capaz de enfrentar esses “lobbies”, não haverá reforma digna desse nome.
É bizarro lançar o debate sobre a reforma do Estado fazendo uma fuga de informação para um jornal de um relatório encomendado pelo Governo ao FMI. Será que o Governo não tem propostas? Ou, tendo-as, receia divulgá-las?
O estudo do FMI conterá muitos defeitos. Mas torna evidente um facto: tal como existe, o Estado português é financeiramente insustentável. Até porque já não ninguém empresta dinheiro ao Estado como há dez anos.
Não é novidade – Medina Carreira e muitos outros alertam há longo tempo para a urgência de emagrecer o “monstro”, como um dia lhe chamou Cavaco Silva. Mas as pessoas não ouvem aquilo que lhes desagrada, ainda que seja a realidade.
As reacções ao relatório do FMI têm sido em geral críticas, incluindo por parte de governantes. Como sempre, a reacção do PS foi de total vacuidade. Mas por detrás da maioria das posições de rejeição está a força corporativa de inúmeros grupos de interesses, que capturaram o Estado.
Se, neste país tradicionalmente dependente do Estado, o Governo não for capaz de enfrentar esses “lobbies”, não haverá reforma digna desse nome.