Não é verdade que as decisões egoístas que apenas maximizam o bem estar individual garantam a gestão eficiente das sociedades.
No recente congresso da ACEGE, o economista Diogo Lucena desmontou esta falácia liberal provando que, em múltiplas situações, as estratégias altruístas, que incluem valores como a solidariedade, aumentam o bem estar colectivo. Ou seja, o “amor ao próximo” tem valor económico e pode ser um critério eficiente de gestão.
Pena a Senhora Merkl desconhecer estas teorias económicas mais inovadoras.
Os gregos são, obviamente, os primeiros interessados em mudar de vida. Daqui a poucas horas, saberemos se o seu voto de domingo conseguirá traduzir-se num novo Governo com condições para promover essa mudança. Mas são todos os outros países do euro (com Portugal e Espanha na linha da frente!) os principais interessados no sucesso do ajustamento grego.
Para a Grécia quebrar o ciclo vicioso da austeridade-recessão, precisa que os seus parceiros lhe concedam mais tempo e os principais credores aceitem rever as condições da ajuda. Sem isso, não voltará a paz às ruas e os radicais do Syriza (que, em 2009, valiam menos de 5% dos votos e agora já valem 27%) acabarão por receber o poder no colo.
Nesse cenário, a saída do euro será uma inevitabilidade e a democracia grega poderá ser a primeira vitíma. Mas toda a Europa será arrastada na queda de Atenas, com Berlim à cabeça.
A esperança de mudança vem agora do esforço conjunto de Obama e Hollande, mas cabe a cada país-membro da União fazer ouvir a sua voz exigindo mais solidariedade global, na Europa e no mundo. É bom ver Cavaco Silva, no artigo hoje publicado no "i" e dirigido aos lideres na cimeira do Rio a juntar a voz de Portugal a este clamor de bom senso.