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Eunice Lourenço

Tiros nas esperanças do PS

09 ago, 2015 • Eunice Lourenço

Demitiu-se Ascenso Simões. Segue-se Duarte Cordeiro, que tem menos de dois meses para levar o PS a uma vitória eleitoral que parece cada vez mais difícil.

Ascenso Simões demorou pelo menos 24 horas a perceber que tinha de se demitir de director de campanha do PS, mas era a única decisão acertada, tendo em conta o que se passou com os cartazes sobre desemprego, cuja polémica levou a um pedido de desculpas públicas do PS na sexta-feira à noite.

Uma coisa era a campanha não estar a correr como era suposto e os socialistas esperariam até estarem a ser gozados por uma primeira fase de cartazes um tanto ridículos. Outra bem diferente e bem mais grave é o que se passou com a segunda fase de cartazes, com caras e histórias de alegados desempregados, que foram tiros no próprio discurso do partido.

Por um lado, as histórias não correspondiam à verdade das pessoas retratadas, três das quais afinal não estavam desempregadas. Ou seja, um partido que tanto tem acusado o primeiro-ministro de mentir e de falsear números de desemprego pôs nas ruas cartazes mentirosos sobre esse mesmo assunto.

Por outro lado – e, eticamente, ainda pior – os cartazes foram feitos e colocados sem que as pessoas retratadas tivessem conhecimento de que a sua imagem seria usada na campanha do PS sobre desemprego.

Tudo isto é de uma falta de profissionalismo e de ética inadmissíveis em qualquer partido, ainda mais num partido com as ambições de governar o país como o PS.

Ascenso Simões demorou a perceber que esta polémica não se resolvia com um pedido de desculpas público. Até marcou para segunda-feira uma conferência de imprensa para lançar e explicar novos materiais de campanha. E ainda este sábado – com a polémica na praça pública – escrevia na sua página de Facebook sobre as suas capacidades para gerir emergências e insucessos.

Segue-se Duarte Cordeiro, número dois da Câmara de Lisboa, ex-líder da JS, diretor de campanha de Manuel Alegre nas presidenciais de 2011. Tem menos de dois meses para levar o PS a uma vitória eleitoral que parece cada vez mais difícil.

O que seria esperável, dada a conjuntura política, seria o PS estar, neste momento, numa campanha em crescendo rumo a uma vitória eleitoral com ambições de maioria absoluta. Está, afinal, enredado em polémicas sobre materiais de campanha que descredibilizam o discurso e a braços com sondagens a que mostram todas as semanas uma vantagem muito curta, demasiado curta para as esperanças de António Costa, sobre a coligação de governo.