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Ribeiro Cristóvão

Fim ao silêncio

09 set, 2014 • Ribeiro Cristóvão

Os responsáveis não podem ficar eternamente escondidos à espera que esteja a caminho o milagre salvador que ajude a varrer para debaixo do tapete as vergonhas com que temos sido confrontados.

O que aconteceu em Aveiro no domingo à noite teve como consequência o resultado que mais envergonha o futebol português ao longo da sua história. Nem os desastrados confrontos com a Inglaterra e a Espanha, em que Portugal esteve envolvido nos anos quarenta e cinquenta do século passado, e de que só os mais velhos se lembram, são dignos de figurar num quadro de vergonha como aquele em que acaba de nos lançar a Albânia.

Perder com a selecção kosovar ficará como uma nódoa inapagável a manchar a carreira de Paulo Bento que, no entanto, não está sozinho nesta jornada maldita que, de repente, trouxe de volta a velha discussão sobre o que vale de facto o futebol português deste tempo.

Tem, por isso, que entender-se o alarido que varreu o país nas últimas horas, e todo o espaço ocupado nos programas da especialidade nos quais, acentue-se, não se ouviu uma única voz em defesa do seleccionador e da estrutura que o rodeia.

Por isso, da parte dos directamente visados, o tempo não pode ser de silêncios.

Paulo Bento ficou-se, no fim do jogo de Aveiro, por meras declarações de circunstância que nada adiantaram sobre as questões que estão verdadeiramente em causa, enquanto o Presidente da Federação e a teia que o envolve parecem ausentes em parte incerta.

Para silêncio, já bastou o que se seguiu à desastrada campanha brasileira, no sábio aproveitamento do período de verão, em que muitos portugueses partiram para férias virando as costas às grandes discussões que então deveriam ter existido.

Agora, tudo é bem diferente: está em curso um Campeonato da Europa cujo apuramento não pode ser comprometido, pois nada ficou perdido na jornada de abertura.

Só que as decisões a tomar, por mais dolorosas que venham a ser, exigem a coragem que tem faltado. Os responsáveis não podem ficar eternamente escondidos à espera que esteja a caminho o milagre salvador que ajude a varrer para debaixo do tapete as vergonhas com que temos sido confrontados.