José Luís Ramos Pinheiro
A grande coligação
03 set, 2014 • José Luís Ramos Pinheiro
Precisamos de uma grande coligação internacional, mais vasta e profunda, que não se reduza à valência militar. Uma coligação cultural assente em valores; valores comuns que todas as regiões e todas as religiões possam partilhar, propor, defender e viver.
A gravação da decapitação de jornalistas, e respectiva difusão na internet, nada tem que ver com religião - islâmica ou outra. Não se trata de uma qualquer ideologia, nem de convicções profundas.
Trata-se de ganhar poder, de preferência absoluto, aproveitando a anemia da consciência europeia, as contradições americanas e a coexistência de diferentes ameaças regionais que não facilitam uma resposta concentrada à ameaça do auto-intitulado Estado Islâmico.
Mas trata-se também de deitar mão a negócios, envolvendo recursos vitais, como o petróleo; e ainda de uma gigantesca instrumentalização, sobretudo de jovens, sacrificados numa espiral de terror – manipulado e massificado na internet e nas redes sociais, procurando semear o pânico global.
Enfrentamos (de novo) a barbaridade, sofisticada pelas tecnologias do momento.
A seguir à queda do muro de Berlim e à implosão da União Soviética houve quem vaticinasse o fim da História. Puro engano. Basta ver como algumas das ameaças de então já regressaram; e como o mundo evoluiu da guerra fria para outros patamares de terror - verdadeiros retrocessos civilizacionais.
O Estado Islâmico é uma ameaça? Claro que sim. Mas não será a última e haverá outras.
Como reagir? É o mais difícil. Mas é importante reagir. Fala-se numa coligação militar. Talvez seja necessária. Mas não chega.
Precisamos de uma grande coligação internacional, mais vasta e profunda, que não se reduza à valência militar. Uma coligação cultural assente em valores; valores comuns que todas as regiões e todas as religiões possam partilhar, propor, defender e viver.
E nunca, nunca cair na armadilha de uma guerra maniqueísta entre o ocidente e o oriente. Esse seria o melhor serviço à causa fundamentalista; e o pior serviço a toda a humanidade.