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Raquel Abecasis

A mensagem e o mensageiro

27 mar, 2014 • Raquel Abecasis

Em circunstâncias normais, deveríamos ter uma carta de demissão em cima da mesa do primeiro-ministro, ou então uma guia de marcha ao "membro do governo" que andou a falar com jornalistas sobre o que não devia.

Morais Sarmento disse esta semana na Renascença, a propósito das “cachas” que Marques Mendes sistematicamente divulga no seu comentário televisivo e que relatam discussões tidas no interior do Conselho de Ministros, que ao, fim de nove meses, “começa a parecer também evidente que há situações em que, pelo menos, parece que o Governo utiliza o doutor Marques Mendes como mensageiro”.

Esta quarta-feira, o mensageiro foi outro: um membro do Governo, que também preside ao grupo de trabalho para apresentar propostas sobre as pensões, chamou os jornalistas para lhes falar de uma medida, que, esta quinta-feira, oficialmente, um ministro veio dizer que “não está em cima da mesa nem vincula o Governo”.

Resta dizer que, no mesmo encontro, o mesmo governante autorizou os jornalistas convocados a divulgar na íntegra aquela informação, atribuindo-a a uma fonte oficial do ministério.

Depois de a notícia ter incendiado o país, aqui d’el rei que estão a especular, diz o primeiro-ministro em Moçambique, ao mesmo tempo que aconselha todos e também os membros do Governo a não especular.

Em circunstâncias normais, deveríamos ter uma carta de demissão em cima da mesa do primeiro-ministro, ou então uma guia de marcha ao “membro do governo” que andou a falar com jornalistas sobre o que não devia.

Depois de tudo o que foi dito hoje por Passos Coelho e Marques Guedes devia, aliás, ser o Presidente da República a obrigar o governo a ser consequente com o discurso oficial, ainda que a verdade dos factos aponte para que desta vez tenha sido escolhido o mensageiro errado. Mais valia terem escolhido de novo Marques Mendes.