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Opinião

A bota e a perdigota

07 jun, 2011 • Francisco Sarsfield Cabral

Sem Sócrates à frente do Governo, esperemos que uma política de verdade substitua a política de dissimulação e ilusão que prevaleceu nos últimos anos.

A bota e a perdigota
Em primeiro lugar, por motivos éticos. A ocultação de tudo o que fosse menos agradável de ser conhecido minou profundamente a relação dos portugueses com os políticos. É urgente reparar os estragos causados neste campo, para recuperarmos uma relação mais saudável entre os cidadãos e os governantes.

Em segundo lugar, a verdade é indispensável, até por razões de mera eficácia política. Sócrates dizia que tudo corria bem e ao mesmo tempo sucediam-se os pacotes de austeridade, cada vez mais penalizadores para as pessoas. Não fazia sentido: a bota não dizia com a perdigota.

Pelo contrário, quando o FMI interveio em Portugal em 1978 e 1983, o então primeiro-ministro Mário Soares não escondeu a realidade. Apontou as dificuldades da situação e a necessidade dos portugueses fazerem sacrifícios para a ultrapassar. Essas duas intervenções do FMI foram um êxito. Também agora não podemos falhar, o que não se consegue com ilusões.