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Morreu a Dama de Ferro

08 abr, 2013 • Filipe d'Avillez

Margaret Thatcher foi primeira-ministra do Reino Unido entre 1979-1990, anos que incluiram o fim da Guerra Fria, a violência da Irlanda do Norte e a invasão das Malvinas.

Morreu a Dama de Ferro
Margaret Thatcher morreu hoje, aos 87 anos, vítima de acidente vascular cerebral. Foi a primeira mulher a liderar um governo na Grã-Bretanha, entre 1979 e 1990. Levou o Partido Conservador ao poder em três eleições seguidas. Saiu de cena antes de terminar o terceiro mandato e retirou-se da vida política que tinha iniciado nos anos 50.

Margaret Thatcher morreu esta segunda-feira, aos 87 anos de idade, depois de um AVC. A informação foi confirmada pelo seu porta-voz.

Thatcher continua a ser a única mulher a alguma vez ter desempenhado o cargo de primeira-ministra no Reino Unido. Foi-o durante 11 anos, entre 1979 e 1990, durante o qual adquiriu a alcunha “Dama de Ferro”, que lhe foi atribuída por um jornalista soviético.

Thatcher foi líder do Partido Conservador numa época complicada para o Reino Unido, que incluiu os últimos anos da Guerra Fria, o agudizar da crise na Irlanda do Norte e aquele que terá sido o seu maior teste, a invasão das Malvinas pela Argentina, um conflito que acabou com uma vitória clara das forças britânicas.

A mulher que acabou por ser feita baronesa nasceu numa família humilde, filha do dono de duas mercearias que se envolveu na política, mas nunca passou das eleições locais. Margaret Hilda, de seu nome completo, formou-se em ciências e trabalhou nesse ramo alguns anos antes de seguir direito e tornar-se advogada.

Envolveu-se na vida política nos anos 50, já pelo Partido Conservador. Nos anos 60 já era deputada na Câmara dos Comuns e uma das maiores críticas das políticas propostas pelo Partido Trabalhista, que considerava um passo não só em direcção ao socialismo como ao comunismo.

Contrariou a posição do seu próprio partido em mais de uma ocasião, defendendo o fim da criminalização tanto da homossexualidade como do aborto, mas votou contra a liberalização das leis de divórcio e defendeu a manutenção da pena de morte.

Em 1974 o Partido Trabalhista chegou ao poder e, pouco depois, Thatcher concorreu à chefia dos conservadores, derrotando Edward Heath.

Alcunhas e atentados
Enquanto líder da oposição nunca fugiu ao confronto, tanto com os trabalhistas como com os opositores estrangeiros, como por exemplo a União Soviética. Foi depois de uma afirmação particularmente agressiva que um jornal soviético a apelidou de Dama de Ferro.

Outras alcunhas eram menos simpáticas. Os nacionalistas irlandeses odiavam-na, sobretudo depois de 10 presos irlandeses terem morrido após uma greve de fome em que reivindicavam o estatuto de presos políticos. Um representante do Sinn Fein definiu-a como “a maior bastarda que alguma vez conhecemos”.

Os irlandeses passaram mesmo das palavras e tentaram assassinar Thatcher em 1984. Apesar de a bomba colocada no seu hotel ter morto cinco pessoas, a primeira-ministra não se deixou demover e manteve o seu programa como agendado, provando que era tão férrea como se calculava.

Heroína dos neoliberais
O grande legado de Margaret Thatcher está sem dúvida no campo económico. Defensora de uma forma de neoliberalismo que chegou a ser definido como "thatcherismo", a primeira-ministra esmagou o poder e a influência dos sindicatos e levou a cabo reformas que levaram os seus críticos a apelidá-la de "nacionalizadora do Reino Unido".

Defendia acima de tudo um Estado que interferisse o menos possível na vida dos cidadãos, respeitando a livre iniciativa, mas defendia não só por calculismo económico ou político, mas sobretudo porque acreditava que "não há liberdade sem liberalismo económico".

O país prosperou, mas à custa de alguns sectores, como a indústria, que ficaram arruinados, levando à falência comunidades inteiras. Se há lugar em que ainda perdura o ressentimento contra a Dama de Ferro, para além da Argentina, é nas antigas comunidades que viviam, por exemplo, das minas de carvão.

Nos últimos anos sofria de demência e de saúde frágil. A sua morte já foi lamentada pelo actual primeiro-ministro. David Cameron considera que o Reino Unido perdeu: “Uma grande líder, uma grande primeira-ministra e uma grande britânica“.

O seu enterro vai-se realizar na Catedral de St. Paul, com honras militares. Contudo, não será um enterro de Estado.

[Notícia actualizada às 16h18]