12 mai, 2016 - 12:01
A Revolução Cultural chinesa começou há 50 anos, com a Circular de 16 de Maio do Partido Comunista Chinês (PCC) "contra as ideias e os representantes da burguesia infiltrados no partido, governo, exército e em todas as áreas da cultura".
Lançada pelo fundador da República Popular da China, Mao Tsé-Tung, a radical campanha política e social de massas teve como pretexto o "aprofundamento da luta de classes sob a ditadura proletária" e acabou a ser considerada pelo PCC "o maior erro e o mais grave retrocesso da história do socialismo na China".
Durante uma década inteira, até praticamente à morte de Mao em Setembro de 1976, dezenas de milhões de pessoas foram perseguidas, presas e torturadas sob a acusação de serem "revisionistas", "reaccionárias" ou "inimigos de classe". Só no interior da China, estima-se que a violência tenha feito 750 mil mortos.
No desencadear da Revolução Cultural, formalmente designada A Grande Revolução Cultural Proletária, esteve uma luta política e ideológica travada na direcção do PCC e no movimento comunista internacional, em torno do "revisionismo" soviético.
A ascensão de políticos moderados e adeptos de "práticas capitalistas" motivou Mao Tsé-Tung a atacar os "Kruschev [o líder soviético que denunciou os crimes de Joseph Stalin] do nosso lado", visando recuperar o poder político absoluto.
A mobilização da juventude chinesa, com a criação dos 'Guardas Vermelhos', contra a autoridade e os "quatro velhos" (pensamento, cultura, costumes e hábitos) foi recebida como um gesto libertador por jovens activistas e intelectuais em todo o mundo.
Das matas africanas às universidades europeias, da Birmânia ao Brasil, o maoismo inspirou movimentos e partidos políticos como a receita certa para a "verdadeira revolução socialista". Mas um mês após a morte de Mao, em Setembro de 1976, alguns dos seus mais fiéis seguidores, incluindo a mulher, Jiang Qing, foram parar à prisão.
O sucessor designado do líder chinês, Hua Guofeng, também não conseguiu manter-se no poder, cabendo a Deng Xiaoping - o antigo "seguidor do capitalismo", afastado duas vezes por Mao - dirigir o país.
O PCC adoptou uma nova política, denominada "Reforma Económica e Abertura ao Exterior" e rompeu com a antiga ortodoxia marxista-leninista, consagrando na sua constituição o direito à propriedade privada e o princípio do primado da lei.
Em 1982, a Revolução Cultural seria oficialmente considerada "o maior erro e o mais grave retrocesso da história do socialismo na China".
A China, entretanto, tornou-se a maior potência comercial do planeta e a segunda maior economia do mundo, investindo milhares de milhões de dólares nos "países capitalistas".
Alguns dos principais acontecimentos da Revolução Cultural entre 1960 e 2015:
1966
Janeiro - Mao Zedong organiza o Grupo Dirigente do Comité Central para a Revolução Cultural (GDRC), que funciona fora do aparelho do PCC e integra a sua mulher, Jiang Qing.
16 de Maio - A Grande Revolução Cultural Proletária é oficialmente decretada com a "Circular de 16 de Maio", que denuncia a "linha revisionista" que tomara conta do PCC e exige a expulsão imediata dos políticos mais moderados.
25 de Maio - Um cartaz a criticar os membros da direcção da Universidade de Pequim é afixado naquela instituição. Os protestos alastram-se a outras universidades e escolas secundárias, que passam a ser vistas como "antros revisionistas" e são encerradas. Jovens radicais autoproclamam-se 'Guardas Vermelhos', assumindo a vanguarda do novo movimento, e juram "lutar até à morte para proteger o Presidente Mao".
5 de Agosto - Mao proclama "Bombardeiem o quartel-general" como palavra de ordem para incentivar a rebelião contra os membros do partido que tentam reprimir o movimento estudantil, nomeadamente o Presidente Liu Shaoqi.
8 de Agosto - É divulgada a "Resolução do Comité Central sobre a Revolução Cultural", conhecida como "16 cláusulas", que consagra o "direito à insurreição" contra toda a ordem sociopolítica.
Entre Agosto e Novembro - Milhões de jovens oriundos de todo o país rumam a Pequim, brandindo o Livro Vermelho, um manual de educação política com as citações de Mao, e instalam-se nas praças e nos campus das universidades.
Nomes considerados tradicionais ou "burgueses", de sítios e pessoas, passam a ser trocados por nomes "revolucionários" (o Hospital União de Pequim, que foi fundado em 1921 pela Fundação Rockefeller, por exemplo, passou a chamar-se Hospital Anti-imperialista).
Monumentos religiosos e relíquias culturais são arrasados, numa violenta cruzada em toda a China contra a cultura tradicional e as "superstições feudais". Os `guardas vermelhos´ invadem residências de "inimigos de classe" e confiscam bens privados.
1967
Janeiro - A Revolução Cultural atinge o auge ao incluir também os trabalhadores. Milhares de operários são mobilizados e derrubam os dirigentes políticos de Xangai, assumindo o poder na segunda principal metrópole da China. Insurreições de operários repetem-se em outras cidades do país e grupos de guardas vermelhos disputam agora entre si a tomada de poder.
Nos campos e nas fábricas, a população é convocada para sessões de crítica e autocrítica. Cada um tenta esconder indícios de uma identidade burguesa [na aparência, nos gostos ou na linhagem sanguínea], temendo ser purgado. Ser "vermelho" é condição para sobreviver.
Julho - A cidade de Wuhan, no oeste da China, é palco de confrontos entre o grupo de "moderados", suportado pelo exército, e a facção mais radical, composta sobretudo por operários.Os comandos militares prendem os líderes radicais e Pequim exige a sua libertação. O exército recusa acatar ordens do Governo central.
Mao rejeita pôr em causa o papel do exército como pilar do Estado e do PCC e apela para a unidade, protegendo os comandantes militares e a estrutura do partido.
1968
Entre Julho e Agosto - Mao envia grupos de operários e soldados para ocupar as universidades e afirma que quem bloquear os transportes ou se insurgir contra o exército será tratado como um inimigo, marcando o fim do movimento dos guardas vermelhos.
Dezembro - Perante a necessidade de recuperar a estabilidade política, Mao ordena que os jovens urbanos partam para as províncias pobres do interior, para "aprenderem com os camponeses".
1971
13 de Setembro - Lin Biao, "sucessor designado" de Mao, morre num acidente de avião na Mongólia, após ter alegadamente falhado um golpe de Estado.
1973
Abril - Deng Xiaoping, o futuro "arquitecto-chefe das reformas económicas" que transformariam a China numa potência económica, é reabilitado por Mao Zedong e nomeado vice-presidente.
1976
8 de Janeiro - Morre o primeiro-ministro chinês Zhou Enlai, que durante a Revolução Cultural foi antagonista do "Bando dos Quatro", a facção mais radical do PCC, liderada por Jiang Qing, e considerada oficialmente como responsável pelos excessos do regime.
4 de Abril - Cerca de dois milhões de pessoas protestam na praça de Tiananmen contra o "Bando dos Quatro" e em homenagem a Zhou Enlai.
9 de Setembro - Morre Mao Zedong, aos 83 anos. A China com que sonhou, igualitária e regida por um sistema de planificação central, é inviabilizada poucos anos mais tarde, com a abertura do país à economia de mercado. O seu corpo, no entanto, continua exposto no imponente mausoléu da Praça Tiananmen e o papel dirigente do PCC permanece um "ponto cardeal" do poder na China.
6 de Outubro - O "Bando dos Quatro" (Jiang Qing, Wang Hongwen, Zhang Chunqiao e Yao Wenyuan) e vários dos seus colaboradores são detidos numa meticulosa operação. Seriam julgados em 1981. Jiang Qing foi condenada à morte, mais tarde comutada em prisão perpétua. Enforcou-se na sua cela em 1991.
1989
4 de Junho – Praça Tiananmen, em Pequim, é palco de protestos pacíficos pró-democracia. O Partido Comunista Chinês enviou 200 mil soldados em tanques blindados para o local. Não se sabe, ao certo, quantas mortes ocorreram em Tiananmen. Segundo o “The New York Times”, num artigo publicado a 21 de Junho de 1989, a Cruz Vermelha chinesa contabilizou 2.600 mortes.
5 de Junho - Um jovem desarmado entra na Praça de Tiananmen e atravessa-se frente a uma fila de blindados. A fotografia do “Homem dos Tanques” - assim ficou conhecido, correu mundo - mas até hoje, não se sabe qual a sua identidade.
2015
27 de Janeiro - Assembleia Nacional Popular (ANP) da China aprovou o fim da política do "filho único". A partir de 1 de Janeiro, todos os casais são autorizados a ter dois descendentes.
Os legisladores chineses deram "luz verde" a uma emenda à Lei da População e Planeamento Familiar, que permite encerrar mais de três décadas de uma política demográfica restrita no país mais populoso do mundo.
O parlamento chinês ratificou a decisão aprovada pelo Partido Comunista Chinês a 29 de Outubro