A+ / A-

Jorge Teixeira, o professor do ano: "Falta humanizar um bocadinho a ciência”

05 jun, 2018 - 15:00 • Olímpia Mairos

O uso do humor, as experiências e os exemplos com situações do dia-a-dia valeram ao professor de Física do agrupamento de Escolas Dr. Júlio Martins, de Chaves, o prémio Global Teacher Prize Portugal.

A+ / A-

É o professor mais inspirador do país. Chama-se José Jorge Silva Teixeira e tem 49 anos. É professor de Física e Química do 3.º ciclo do Secundário, no agrupamento de ecolas Dr. Júlio Martins, em Chaves.

Jorge Teixeira venceu a primeira edição do Global Teacher Prize Portugal e conta à Renascença que fundou, há 12 anos, na Secundária Fernão de Magalhães, em Chaves, o “Clube do Ensino Experimental das Ciências (CEEC), um clube informal que articula com o ensino formal”. Foi esta iniciativa que lhe valeu o prémio.

Quando pediu transferência de agrupamento, há menos de um ano, Jorge Teixeira decidiu repetir a ideia e criou o CEEC na sua nova escola. O clube está aberto semanalmente, fora do horário letivo, acessível a todos os estudantes que queiram participar e é “um espaço onde os alunos debatem ideias, fazem experiências e aplicam os conhecimentos adquiridos nas aulas”.

As experiências são, depois, reveladas à comunidade escolar. Este ano, por exemplo, os alunos mediram a radioatividade da escola, realizaram atividades de sensibilização relativamente aos incêndios florestais e desenvolveram um projeto ligado à seca.

“Os alunos andaram alguns meses a fazer atividades de física e química, mas relacionadas com os incêndios. Depois construímos um calendário para 2019, com essas atividades, com pinturas sobre Nadir Afonso”, conta o docente. O calendário está a ser vendido a três euros e lucro vai reverter para “replantação de uma área ardida com áreas autóctones”.

“Estamos aqui a relacionar ciência, com arte, com sociedade e, às vezes, o que falta é humanizar um bocadinho a ciência”, diz o professor criativo.

Um outro projeto conduziu à construção de um sistema para obter humidade a partir do ar, para regar plantas em zonas de seca extrema. O objetivo, explica o professor, é conseguir-se desenvolver plantas "autónomas", quase sem rega.

O clube funciona como inspirador e motivador para a aprendizagem da física e química, mas não só.

“Os alunos que vêm ao clube têm em média melhores resultados do que aqueles que não vêm. Aqui os alunos aprendem a observar e a refletir. Fazemos uma articulação vertical dos conteúdos desde o pré-escolar até ao ensino universitário. É uma maneira de trazer a comunidade à escola. E uma ferramenta para os alunos perceberem qual é a sua vocação”, concretiza.

Jorge Teixeira assume-se “bem-humorado como professor e para a vida”, porque entende que “se não houver humor, as coisas deixam de fazer algum sentido”.

O docente valoriza muito a relação com os alunos e incentiva-os ao questionamento, ao querer saber as razões das coisas, daí que atribuía à palavra ‘porquê’ grande parte do sucesso do projeto que lançou.

“Há uma palavra que os meninos esquecem a partir do pré-escolar para os graus de ensino seguintes, que é o porquê das coisas. O porquê é extremamente importante e quando se apresenta um projeto, a minha questão é sempre o porquê, porque é que acontece isto, porque é que acontece aquilo? É a partir do porquê que vamos desenvolvendo várias atividades”, conclui.

Numa altura em que se fala muito de indisciplina dentro da sala de aula, o professor revela à Renascença que não tem desses problemas e afirma que “o respeito é algo que se conquista”.

“Um professor quando vai para uma sala de aula, no fundo, tem que encher a sala de aula e não apenas o espaço onde está. Aos poucos vai-se conquistando a confiança dos alunos, vai-se interagindo com eles e, ao fim de algum tempo, eles percebem como as coisas funcionam e normalmente os alunos são muito respeitadores e os pais também”.

Apesar de focado no ensino secundário, as atividades do CEEC são extensíveis a todos os ciclos escolares.

Um professor fantástico que é o orgulho dos alunos

Os membros do Clube do Ensino Experimental das Ciências e alunos de Jorge Teixeira não podiam estar mais contentes com a conquista do seu professor.

Hugo Cunha, de 15 anos, diz-se orgulhoso e conta que “o professor é alguém que desperta um interesse enorme pelo conhecimento”. “Conseguiu cativar-me logo no primeiro dia, impressionou-me logo com as experiências e despertou em nós um interesse enorme em participarmos neste clube e em vir aqui todos os dias, a gostarmos da disciplina e a obtermos boas notas”, diz.

Pertencer ao CEEC é para Hugo “uma oportunidade fantástica de aprender coisas e poder associá-las à física e à química”, que é a área em que se encontram. Sobre o professor de física e química, diz “é uma pessoa fantástica, que prende a atenção, com quem se pode contar”.

Patrícia Delgado, de 15 anos, descreve o professor como alguém “muito simpático, que ensina muito bem e que fala para os alunos acreditando mesmo que podem ser alguém na vida”. A estudante quer aproveitar ao máximo o CEEC, porque aprende “diversas coisas de diferentes maneiras”.

“É o que me cativa mais. São coisas novas que nem sequer na internet vejo”, diz Patrícia, por entre sorrisos. “Eu não tive isto nos outros anos. Só a partir do 10º, que foi quando o professor entrou. Não teria esta oportunidade noutro sítio. Vale a pena e quero aproveitá-la”, conclui a aluna do 10 ano.

Também Sofia Batista, de 15 anos, manifesta “orgulho” no “excelente e “simpático” professor que “incentiva sempre a fazer melhor” e conta que faz parte do CEEC por incentivo precisamente do docente de física e química.

“Vim pelo incentivo do professor. Aqui fazemos inúmeras experiências e conseguimos perceber de onde vem a origem até do mundo, coisas muito espetaculares. E aprendemos muito mais através de experiências e coisas práticas do que numa sala”, conta.

Sobre o prémio de professor mais inspirador, Sofia considera que “é fantástico, porque nós somos do Interior e é muito difícil ganhar assim um prémio. Mas ele mereceu”.

Prémio motiva novos projetos

Jorge Teixeira, o vencedor da primeira edição do Global Teacher Prize Portugal, que distingue professores que tenham desenvolvido iniciativas inovadoras para solucionar desafios educativos em contexto escolar, recebe um prémio monetário no valor de 30 mil euros.

O docente da Escola Secundária Dr. Júlio Martins, em Chaves, ainda não definiu como será distribuído o dinheiro, mas sabe que “”será aplicado em ambiente escolar e em ensino experimental”.

“Replicar o projeto noutras escolas para que os alunos passem a gostar mais de física e de química”, é um dos grandes objetivos do professor. “O dinheiro tem que ser muito bem aplicado, temos que o saber fazer render e abranger o maior número possível de escolas”, sintetiza à Renascença.

O Clube do Ensino Experimental das Ciências (CEEC), que Jorge Teixeira criou há 12 anos, foi o projeto selecionado (entre 110 candidatos) pelo júri presidido pelo docente da Nova SBE Afonso Mendonça Reis e que tem como presidente honorário o ex-ministro da Justiça Álvaro Laborinho Lúcio.

Jorge Teixeira está automaticamente nomeado para a edição internacional do Global Teacher Prize, que se realiza desde 2015, sob a égide da Fundação Varkey, dedicada à melhoria da educação em contextos socialmente desfavorecidos. O grande vencedor receberá um milhão de dólares (cerca de 812 mil euros).

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

Destaques V+