24 jan, 2012
O arcebispo de Braga, D. Jorge Ortiga, considera que a CGTP devia ter-se empenhado mais nas negociações da concertação social e defende que, com mais diálogo, o acordo poderia ter sido melhor para os trabalhadores.
“Sou daqueles que acredita no diálogo até à última instância e o diálogo é sempre uma oportunidade para acrescentar alguma coisa que poderia tornar este acordo talvez mais perfeito e mais consentâneo com as exigências dos trabalhadores”, afirma D. Jorge Ortiga, no programa "Terça à Noite", da Renascença.
O Arcebispo de Braga entende que "pela situação particular que estamos a viver neste país, que necessita de uma convergência de intenções e de compromissos", a CGTP devia ter sido "capaz de dialogar um pouco mais, de lutar no diálogo por outras exigências, por outras reivindicações", enfim, "participado um pouco mais".
D. Jorge Ortiga mostra-se “convencido de que esta concertação social e este acordo é algo necessário” e, em tempo de crise, “é fundamental” que todos os portugueses se coloquem neste processo de alguma austeridade, que vai exigir um novo estilo de vida.
O também presidente da comissão episcopal da Pastoral Social espera que o acordo alcançado entre Governo, patrões e UGT seja um acordo de transição, que permita aumentar a capacidade económica e os postos de trabalho em Portugal.
"Palavras infelizes" as do Presidente
Sobre as recentes e polémicas declarações do Presidente da República, a propósito dos seus próprios rendimentos, o Arcebispo de Braga diz entender aquilo que o Presidente da República quis dizer, mas, a título pessoal, considera que Cavaco Silva foi infeliz ao afirmar que não ganhava para as despesas.
“Entendo aquilo que o Sr. Presidente da República pretendeu dizer, mas eu penso, talvez, que as palavras foram infelizes, naquele momento e nesta situação”, afirma D. Jorge Ortiga.
O presidente da comissão episcopal da Pastoral Social diz que houve um tempo em que se falou muito em equidade, o que não quer dizer que a sociedade portuguesa tenha de ser igualitária, porque haverá sempre diferenças porque há responsabilidades mais exigentes .
“Há responsabilidades que têm exigências totalmente diferentes. O que me incomoda é que existam portugueses que vivam com sacrifício, que não tenham aquilo que é indispensável”, salienta.
“Defender o domingo como a festa da família”
Questionado sobre o facto do acordo deixar aberta a possibilidade do trabalho ao sábado , sem direito a remuneração, D. Jorge Ortiga considera bem mais grave o trabalho ao domingo, não é só por uma questão religiosa.
D. Jorge Ortiga afirma que é importante “defender o domingo como a festa e o espaço da família e para a família”.
“A família precisa de encontro entre país e filhos para conviver, para encontrar outros familiares e certas experiências de solidariedade e sei que há famílias que nunca têm esta possibilidade, às vezes nem sequer no dia de Natal.”
Sobre os jovens que acabam as suas licenciaturas e não conseguem entrar no mercado de trabalho , acabando muitas vezes por procurar emprego no estrangeiro, D. Jorge Ortiga diz que essa possibilidade já acontece, mas chama a atenção para a necessidade de não se cair no velho desígnio da emigração “de mala às costas” e sim promover políticas que promovam o emprego e colocação destes jovens que fazem falta ao país.
Em entrevista ao programa “Terça à Noite” da Renascença, considera “um escândalo” o facto de haver idosos que morrem sozinhos numa “sociedade dita moderna” que não conhece, não presta atenção, não se preocupa com os outros, sobretudo com os mais necessitados.
O grande papel da Igreja Católica nos dias de hoje, sublinha D. Jorge Ortiga, é o da formação das consciências, pela evangelização, e de comunicar que todos somos responsáveis por todos.