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Carvalho da Silva

"Se entrarmos no processo do descalabro, a pobreza vai aumentar"

17 jan, 2012 • Ana Carrilho

O líder da CGTP diz, em entrevista à Renascença, que teme cortes salariais e que o acordo que saiu da concertação social "é uma desgraça" em matéria de contratação colectiva. Afirma ainda que a discussão em torno da meia hora favoreceu a argumentação dos patrões.

"Se entrarmos no processo do descalabro, a pobreza vai aumentar"
O secretário-geral da CGTP defende que a possibilidade de ser introduzida meia hora extra de trabalho por dia no horário dos trabalhadores serviu como mote para depois serem negociadas outras medidas gravosas. "Tudo o que viesse abaixo disso [da meia hora extra]", acusa Carvalho da Silva, "já não era grave". O líder da central sindical considera que o acordo conseguido entre Governo, UGT e patrões parte do princípio de que a saída para a crise "se faz à custa dos trabalhadores".
Carvalho da Silva afirma que além de não concordar com o que foi assinado entre patrões, Governo e UGT, está preocupado com o que ficou de fora, nomeadamente no que respeita ao salário mínimo.

Em entrevista ao programa "Terça à Noite" da Renascença, o líder da CGTP diz temer cortes salariais e aumento da pobreza. Carvalho da Silva não vai assinar o acordo que saiu da concertação social e explica porquê. 

"Como é que tratamos dos rendimentos mínimos e dos salários dos portugueses? Porque se entramos outra vez num processo de descalabro de abaixamento de salários mínimos e da protecção mínima, vamos ter em Portugal o aumento da pobreza dentro de muito poucos anos."

Carvalho da Silva considera que a discussão em torno da meia hora adicional de trabalho, que esteve em cima da mesa, "abriu a porta ao corte de direitos dos trabalhadores". O sindicalista considera que a discussão em torno da meia hora favoreceu a argumentação dos patrões.

"Quando se introduziu isto, permitiu-se que sectores patronais, que andam sempre à procura de mais qualquer coisa a favor deles, e que introduziram uma cartilha reivindicativa enorme e agora disseram que só sai a meia hora se vocês cederem nisto tudo”.

Carvalho da Silva considera também que o acordo que saiu da concertação social contempla "um conjunto de medidas gravosas" e que faltou discutir a contratação colectiva. "Há três matérias fundamentais que deviam estar em discussão e que não estavam, que é como vitalizar a contratação colectiva. O que vai acontecer é uma fragilização da contratação colectiva. É uma desgraça nesse plano."

Outra questão em aberto, acrescenta o líder da CGTP, "é exactamente a fiscalidade e combate à economia paralela, mas isso o texto, daquilo que chamam acordo, não tem".

Alerta contra "nivelamento por baixo"
Sobre a entrada da China na economia portuguesa, não vê problemas desde que se saiba o que isso significa, mas admite que pode ter influência no funcionamento do mercado laboral português.

O líder sindical afirma que os governantes portugueses e alguns analistas da situação económica e social que criticam o modelo chinês “andam a tentar conduzirmos a esse nivelamento por baixo” .

Sobre o seu futuro quando deixar a direcção da CGTP, Carvalho da Silva esclarece que nunca disse que ia fazer ou não intervenção política, mas confessa que está disponível para uma intervenção social, política e económica.

Quanto ao facto de ser visto por muita gente como uma pessoa capaz de unir a Esquerda, Carvalho da Silva diz que é preciso “ter os pés assentes na terra” e não quer criar “ilusões sobre cenários que nem imaginamos se são possíveis”.

“Vamos debater questões, vamos ver o que é que se pode fazer”, remata o líder da CGTP nesta entrevista ao programa “Terça à Noite” da Renascença.