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Médicos de família privados "devem integrar" Serviço Nacional de Saúde

10 jan, 2012 • Joana Bénard da Costa

Presidente executiva do Grupo Espírito Santo Saúde é contra aumento das taxas moderadoras, considera que há maternidades a mais em Lisboa e que os privados gerem melhor que o público.

Médicos de família privados "devem integrar" Serviço Nacional de Saúde
Isabel Vaz, presidente executiva do Grupo Espírito Santo Saúde, defende que “é fundamental liberalizar os cuidados de saúde primários”. Em entrevista ao Terça à Noite, considera que a entrada no sistema de médicos privados é a melhor forma de garantir um médico de família a todos os portugueses. Isabel Vaz contesta ainda a decisão do governo de aumentar as taxas moderadoras e defende que a abertura do Hospital de Loures tem de ter consequências a nível da reorganização dos hospitais em Lisboa.

Isabel Vaz, presidente executiva do Grupo Espírito Santo Saúde, defende que “é fundamental liberalizar os cuidados de saúde primários”. Em entrevista ao programa “Terça à Noite”, da Renascença, considera que a entrada no sistema de médicos privados é a melhor forma de garantir um médico de família a todos os portugueses.

“Eu penso que é fundamental liberalizar um ‘bocadão’ os cuidados primários. Não é preciso ter serviços tão institucionalizados, ter um Centro de Saúde do Estado. Um cuidado primário pode ser um médico no seu consultório privado, que tem um contrato de adesão com o Estado e que tem mais de mil utentes ao seu cuidado. Qual é o problema?“, pergunta.

"Precisamente porque a reforma dos centros de saúde está longe do fim", Isabel Vaz contesta a decisão do Governo de aumentar as taxas moderadoras nos cuidados de saúde primários.

“Eu teria feito diferente. Não teria mexido nas taxas moderadoras dos cuidados de saúde primários, mas concordo com o que foi feito para as urgências. Objectivamente, há um uso indevido das urgências: cerca de 30% são indevidas.”

A responsável pelo grupo Espírito Santo Saúde, que vai gerir o novo hospital de Loures, defende que a abertura da nova unidade tem de ter consequências ao nível da reorganização dos hospitais em Lisboa.

“Há muita coisa a fazer: há que rever toda a rede de transplantação e ver o que se faz com o centro do Curry Cabral. Hoje em dia, não faz sentido funcionar sem ser integrado num centro hospitalar.”

Há maternidades a mais na capital
Em relação às maternidades, Isabel Vaz diz que há excesso de unidades em Lisboa "e depois há falta de pessoal e quadriplicação de escalas de urgência”.

Quanto à Maternidade Alfredo da Costa, Isabel Vaz considera que o problema é ainda mais complicado, porque tem que ver com a estratégia clínica: “Hoje em dia, não faz sentido as maternidades funcionarem isoladas dos grandes centros hospitalares, tal como os transplantes”.

Isabel Vaz assume que é uma defensora do novo hospital oriental de Lisboa por considerar que a mudança dos antigos hospitais civis para um novo hospital vai permitir grandes poupanças para o Estado, "dinheiro que é necessário para tratar as pessoas".

“Gerimos com menos custos”
O grupo Espírito Santo vai gerir o novo hospital de Loures, que abre de forma faseada a partir de 19 de Janeiro. Uma parceria público-privada que Isabel Vaz diz ser um óptimo negócio para o Estado, mesmo contando com a margem de lucro que o grupo privado espera conseguir.

“O Estado vai estar sempre a comparar-nos com um grupo de hospitais de referência. Se o Estado melhorar os índices de eficiência de gestão do nosso grupo de comparação, nunca poderemos ter preços superiores. O que nós estamos a dizer é que gerimos com menos custos do que hoje o Estado nos seus próprios hospitais. Se eu não tiver lucro, o problema é meu - o Estado paga sempre o mesmo.”

Para Isabel Vaz, não há motivo que justifique neste momento a renegociação da parceria com o Estado. Refere ainda que "não há que temer os privados" - os grandes grupos de interesse, afirma, "estão dentro do Serviço Nacional de Saúde".

“Os ministros acabam por perceber rapidamente que os grandes grupos de interesse estão lá dentro, apesar de falarem sempre nos grandes económicos. As grandes corporações estão dentro do Serviço Nacional de Saúde. Nós pouco temos que ver, à excepção das parcerias público-privadas, que são contratos perfeitamente definidos. A nossa área de influência move-se com as seguradoras. Aborrecemos muito pouco o Ministério da Saúde e eu, aliás, praticamente não vou ao Ministério.”

Ainda sobre o Serviço Nacional de Saúde, Isabel Vaz diz que as nomeações com lógica partidária para as administrações dos hospitais travam o progresso do país: “Se os partidos conseguirem ter gente competente, óptimo. O problema é que nem sempre é assim e fazem-se nomeações de pessoas sem competência e é isso que dá cabo do nosso país e nos torna um país atrasado, nomeadamente na área da saúde”.