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Pegado desmente Macedo. Taxa de abortos "tem aumentado todos os anos"

11 mar, 2015

Em entrevista à Renascença, o ministro da Saúde defende a redução do número de interrupções voluntárias da gravidez e a abertura de mais vagas para o curso de Medicina. Presidente da Federação Portuguesa pela Vida discorda.

A presidente da Federação Portuguesa pela Vida discorda do ministro da Saúde quanto à ideia de que se assiste em Portugal a um decréscimo do número de abortos. Isilda Pegado diz que, pelo contrário, a taxa de interrupções da gravidez está a aumentar.

"O aborto não está a diminuir, o que está a diminuir em Portugal é o número de mulheres em idade fértil", argumenta.

"A taxa tem de ser seguida em função do número de gravidezes e como este número tem diminuído em termos absolutos, também diminui o número de abortos, mas tal facto não quer dizer que a taxa de aborto diminua. Pelo contrário, tem vindo a aumentar 4% a 5% todos os anos", destaca Isilda Pegado, em declarações à Renascença.

A activista fala ainda do défice de mecanismos dissuasores da prática do aborto e acusa a legislação portuguesa de ser "associal".

"A regulamentação neste momento promove o próprio aborto e, por outro lado, não tem mecanismos activos de apoio às mulheres que estão em dificuldade e que fazem um aborto porque estão em dificuldades. Quando uma pessoa tem uma dor de dentes, vai ao médico e ele tira-lhe a dor, não o dente, em princípio. Só em último caso. Em relação ao aborto o que se está a passar é exactamente o contrário: temos uma prática absolutamente associal e contra a própria mulher", sustenta.

O ministro da Saúde, Paulo Macedo, foi entrevistado pela Renascença na terça-feira, no programa "Terça à Noite", onde defendeu que o aborto não pode ser usado como método de planeamento familiar e que o problema não se resolve com taxas moderadoras.

Bastonário volta a alertar para excesso de médicos
Na mesma entrevista, Paulo Macedo deixa entender a necessidade de aumentar as vagas para Medicina no ensino superior, o que já mereceu as críticas do bastonário da Ordem dos Médicos.

"O senhor ministro sabe que estamos a formar médicos acima das necessidades do país. Se eventualmente houvesse agora alguma alteração no 'numerus clausus' nas faculdades, a repercussão só se faria sentir 12 anos depois, que é o tempo de formação média de um especialista médico", alega José Manuel Silva.

"Daqui a 12 anos já teremos um desemprego médico pelo excesso de formação que temos neste momento, excepto se os médicos continuarem a emigrar, como é bem possível, face à desqualificação e desvalorização do trabalho médico no Serviço Nacional de Saúde que decorreu das medidas tomadas pelo senhor ministro", aproveita para acrescentar.

Na opinião do ministro da Saúde, existe carência de clínicos em inúmeras especialidades. Paulo Macedo sublinha também que a saúde é um sector de pleno emprego.