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Médicos europeus acusam governos de pôr economia à frente do bem-estar

15 jan, 2013 • Anabela Góis

Constantino Sakellarides, um dos subscritores de uma carta aberta que representa os clínicos de Portugal, Espanha, Grécia e Irlanda, alerta para o facto de não estar a ser feita qualquer avaliação do impacto das medidas na qualidade da saúde dos utentes.

Os médicos de Portugal, Espanha, Grécia e Irlanda alertam para os impactos negativos que as medidas de austeridade estão a ter na saúde.

Numa carta aberta, esta terça-feira apresentada em Lisboa, os subscritores dizem que nos países sob intervenção externa, directa ou indirecta, como é o caso de Espanha, as políticas públicas estão a pôr a economia à frente do bem-estar.

“Nos últimos ano e meio, dois anos, com a intervenção externa sobre esses países, ao que temos assistido tem sido o seguinte: primeiro, tomar decisões de carácter financeiro sem qualquer previsão sobre o seu impacto sobre o bem-estar das pessoas, depois ver se a economia cresce, começa por dizer Constantino Sakellarides, director da Escola Nacional de Saúde Pública. "Depois, ao fim do dia, ao fim da tarde, vai o carro vassoura e recolhe os feridos e aqueles que sofreram as consequências da crise. Ora isto vai contra a lógica do que devem ser políticas públicas”, defende, “precisamos pôr simultaneamente sobre a mesa as diferentes políticas, ver as alternativas, se existem”.

“Ver quais são as implicações para a economia e quais as implicações para saúde. Tendo esse quadro sobre a mesa, tomar decisões que satisfaçam simultaneamente aquilo que são obrigações financeiras, aquilo que são perspectivas de crescimento económico e aquilo que são aspirações legítimas em relação à saúde” defende o médico.

Constantino Sakellarides, um dos subscritores desta carta aberta, alerta, em particular, para o facto de não estar a ser feita qualquer avaliação do impacto das medidas de austeridade na qualidade da saúde dos utentes.

“Quando há uma crise desta natureza, quando se tomam decisões financeiras no sentido da austeridade, do empobrecimento das pessoas, é obrigatório fazer uma previsão do impacto disso sobre a saúde, o que não aconteceu em nenhum destes quatro países”, avisa.

Constantino Sakellarides apresentou esta carta aberta juntamente com o bastonário da Ordem dos Médicos, que pretende ser um alerta para Governos e autoridades de saúde da Europa.    

Os responsáveis por esta iniciativa estão neste momento a fazer o levantamento das situações e prometem apresentar casos concretos sobre os efeitos das medidas de austeridade na saúde de portugueses, espanhóis, irlandeses e gregos até ao final do mês, altura em que apresentarão, também, soluções para os problemas detectados.

Na Grécia, Irlanda e Espanha esta carta aberta é assinada pelos bastonários das Ordens dos Médicos dos respectivos países.

Em Portugal, para além de José Manuel Silva e de Constantino Sakellarides, são subscritores os antigos ministros da saúde, Maria de Belém Roseira e Paulo Mendonça.