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Demências entre as doenças mais temidas pelos portugueses

26 ago, 2015 • Ana Carrilho

Demências só são superadas pelo cancro e pelo AVC na lista de doenças que os portugueses mais receiam. Portugal apresenta uma taxa de incidência deste tipo de enfermidade superior à média europeia.

Demências entre as doenças mais temidas pelos portugueses
As demências estão entre as doenças que os portugueses mais receiam, sendo só superadas pelo cancro e pelo acidente vascular cerebral (AVC). Este é um dos resultados preliminares de um inquérito "online" sobre a percepção que os portugueses têm sobre as demências.

Cerca de um quarto (26,1%) dos inquiridos dizem que a demência é a condição médica que mais temem.

O inquérito, que envolveu 950 inquiridos, 70% dos quais com menos de 45 anos, revela também que quase 45% das pessoas conhece alguém ou tem familiares que sofrem de algum tipo de demência, nomeadamente Alzheimer.

Os resultados do inquérito vão ser apresentados na conferência anual da Alzheimer Europe, que decorre na Eslovénia, na próxima semana.

Estes primeiros resultados do estudo, apoiado pela Direcção-Geral da Saúde e pela Alzheimer Portugal, foram revelados esta quarta-feira pela Maria do Rosário Zincke dos Reis, representante da associação na conferência, no programa "Trabalho sem Fronteiras".

Os inquiridos disseram também ter a ideia de que a maioria das pessoas da sua comunidade considera que estes doentes devem deixar de participar em actividades de carácter social.

"É um sinal de que ainda há muito trabalho a fazer para combater o estigma da doença", diz a representante da organização portuguesa na Alzheimer Europe.

Portugal apresenta uma taxa de incidência das demências na população de 1,7 %, superior à média europeia (1,55%). São cerca de 183 mil pessoas já diagnosticadas, 130 mil das quais com Alzheimer. Os valores explicam-se pelo facto de Portugal ser um dos países envelhecidos da Europa.

O envelhecimento é o principal factor de risco da doença, que atinge sobretudo pessoas com mais de 65 anos.

Faltam passos concretos
Maria do Rosário Zincke dos Reis diz que estes números justificam uma maior sensibilização dos políticos para um problema que cresce a cada dia que passa. Prevê-se que o número de doentes duplique até 2030 e triplique até 2050.

Há vários anos que está prometido um Plano Nacional de Intervenção em Demências, mas ainda não foram dados passos concretos. Tem sido uma longa batalha da Alzheimer Portugal, diz Zincke dos Reis.

Já este mês o Conselho de Ministros aprovou a "Estratégia para o Idoso", que consagra a alteração do regime jurídico das incapacidades. Em fase final do mandato do Governo e com necessidade de mexidas nos Códigos Civis e Penal, não pode avançar de imediato. "Mas, quando se traduzir em algo de concreto, será muito positivo", diz a voluntária da Alzheimer Portugal.

Também a Alzheimer Europe tem em curso uma campanha para a assinatura da Declaração de Glasgow em que se pede maior empenho dos governos nacionais e da própria União Europeia na defesa dos direitos fundamentais dos doentes com demência e no direito a um diagnóstico atempado e posterior acompanhamento.

A Declaração de Glasgow pede ainda melhor qualidade de vida para os doentes e cuidadores, um regime de tutela que salvaguarde os direitos civis e jurídicos destas pessoas que vão perdendo capacidades e uma aposta na investigação na busca de uma cura.

"Políticos têm receio de se comprometer"
A declaração já foi assinada por 575 portugueses, mais do que de qualquer outro Estado-membro da União Europeia. Mas apenas dois políticos subscreveram o texto: as eurodeputadas Marisa Matias, do Bloco de Esquerda, e Sofia Ribeiro, do PSD. A antiga presidente da Alzheimer Portugal diz que "os políticos têm receio de se comprometer".

A União Europeia tem cerca de 8 milhões de pessoas com demência e a consciencialização do problema está a crescer lentamente. A presidência luxemburguesa assumiu-o como uma prioridade.

A Alzheimer Portugal acredita que é preciso que os cidadãos tenham cada vez mais informação sobre as demências – a começar pelos mais novos, cada vez mais confrontados com esta realidade no seio da própria família. É o que pretende o projecto "Memo e Kelembra", da Alzheimer Portugal, e que já correu inúmeras escolas do país, envolvendo crianças entre os seis e os 12 anos.

Maria do Rosário Zincke sublinha que é preciso estar atento aos primeiros sinais da doença: o esquecimento de rotinas diárias que envolvem tarefas básicas como a alimentação e higiene ou desorientação no espaço e no tempo. São sinais a que os próprios doentes e familiares devem estar atentos, mas, sobretudo, os médicos de família para que encaminhem as pessoas para o tratamento adequado.