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Portugueses pagam cada vez mais para aceder à Saúde

15 jun, 2015 • Anabela Góis

Relatório do Observatório Português dos Sistemas de Saúde conclui que Portugal ficou mais “doente” depois da intervenção da “troika”. Pela positiva, destaque para a baixa do preço dos medicamentos.

Portugueses pagam cada vez mais para aceder à Saúde

Apesar de estarem mais pobres, os portugueses pagam cada vez mais pela sua saúde. As chamadas despesas “out-of-pocket” – aquelas que cada um dos utentes paga – têm vindo a aumentar.

A conclusão consta do relatório de Primavera do Observatório Português dos Sistemas de Saúde (OPSS) – o primeiro a ser apresentado depois do programa de ajustamento.

Segundo o director do Centro de Investigação em Ciências e Tecnologias da Saúde, Manuel Lopes, a percentagem que “nos sai do bolso” aumentou por via das taxas moderadoras, da diminuição das consultas nos cuidados primários, dos transportes e da alteração das despesas dedutíveis no IRS.

Portugal subiu, assim, do sexto para o quarto lugar na lista de países da OCDE com maiores pagamentos “out-of-pocket”.

Estado gasta cada vez menos
Portugal tem uma das mais baixas despesas em saúde por habitante da União Europeia, conclui o mesmo relatório.

O documento indica uma diminuição constante do número de consultas nos cuidados primários, desde 2008, e uma contínua redução de camas nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS), enquanto no privado elas aumentam.

Na rede de cuidados continuados, as camas estão longe de ser suficientes para as necessidades, mas o pior é que as equipas que prestam cuidados domiciliários continuam a estar subocupadas.

A situação verifica-se em todo o país, mas é mais grave no Centro, onde a referenciação para este tipo de apoio a doentes ronda os 40%.

O Relatório de Primavera adverte ainda para a dificuldade que a rede nacional de cuidados de saúde mental tem em avançar. Fecharam-se hospitais psiquiátricos e não se criaram as correspondentes respostas.

Portugal é o país da União Europeia que menos investe na saúde mental, apesar de ter das mais altas taxas do mundo.

Medicamentos mais baixos…
Segundo o relatório do OPSS, o aumento da taxa de genéricos facilitou o acesso a medicamentos mais baratos, mas a revisão de algumas comparticipações não foi benéfica para os utentes.

Por exemplo, avança o director do Centro de Investigação em Ciências e Tecnologias da Saúde, parceiro do Observatório, a revisão das comparticipações acabou por prejudicar os medicamentos anti-psicóticos.

“Essa alteração está a sair mais cara às pessoas e, não só faz com que paguem mais, como faz com que deixem de os tomar de acordo com a prescrição”, sublinha, em declarações à Renascença.

De acordo com o Relatório de Primavera, as medidas de contenção de custos levaram a uma súbita diminuição global de consumo de anti-psicóticos estatisticamente significativa.

O documento salienta ainda a diminuição do poder de compra dos portugueses, que dificulta o acesso aos medicamentos, tal como a falta de fármacos nas farmácias, o que deriva dificuldades que “outros intervenientes no circuito do medicamento enfrentaram” e que tiveram “repercussões na saúde da população”.


[Notícia actualizada às 8h00 com novos dados e sons]