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Porque não há Nobel da Matemática?

08 out, 2014 • Hugo Monteiro

Não há provas documentais, mas acredita-se que Alfred Nobel ignorou a Matemática por uma das mais prosaicas das razões: uma disputa amorosa.

Porque não há Nobel da Matemática?

Prémio Nobel da Medicina, da Física, da Química, da Literatura, da Paz... E o da Matemática? Pois é, há quem diga que Alfred Nobel se esqueceu daquela disciplina que tantas dores de cabeça dá aos nossos alunos. Mas será que se esqueceu mesmo? Reza a lenda que deixar a Matemática de lado foi tudo menos um problema de memória.

No seu testamento, Alfred Nobel instituiu uma fundação - a Fundação Nobel - que premeia, anualmente, aquelas que são consideradas as maiores realizações do espírito humano. Mas, na altura de redigir as suas últimas vontades, Nobel ignorou a Matemática por razões bem prosaicas: por uma questão de... saias.

"O maior matemático sueco da época do Nobel, que era Gösta Mittag-Leffler, teria tido um 'affaire', um caso amoroso sério, com a então mulher dele. Terá sido essa a razão pela qual, na sua lista de ramos do conhecimento a premiar, Nobel riscou a Matemática", conta o matemático português Jorge Buescu.

Lenda ou a mais pura das verdades? Dificilmente algum dia se saberá com rigor matemático. Certo é que um outro facto, este capaz de ser comprovado documentalmente, mostra que os dois homens não mantinham uma boa relação.

"Mittag-Leffler passou a reitor da Universidade de Estocolmo e Alfred Nobel, que no seu testamento deixava parte da sua herança àquela Universidade, no momento em que o seu rival subiu ao cargo de reitor, riscou-a da lista de herdeiros", conta Jorge Buescu, que é professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e autor de vários livros sobre curiosidades em torno da Matemática.

As Medalhas Fields e a Guerra Fria
Sem um verdadeiro Nobel para receberem, os estudiosos da Matemática anseiam por ganhar uma Medalha Fields - o prémio que, popularmente, é conhecido como o "Nobel" (entre aspas) da Matemática.

Esta denominação, conta Buescu, nasceu no período da Guerra Fria: "Nos anos 60, uma matemático norte-americano, Stephen Smale, que era medalhado Fields, quando estourou a guerra do Vietname, passou a ser um furioso activista contra o conflito. Além disso, por razões científicas, mantinha relações com a União Soviética. Aliás, era dos poucos matemáticos ocidentais com ligações a Moscovo”.

Por essas razões, a autoridade científica norte-americana cortou-lhe as bolsas. “Foi um escândalo na época e gerou um movimento de cientistas e de matemáticos em sua defesa que diziam que ele era, provavelmente, um dos melhores na sua área e que até tinha ganho o equivalente ao Prémio Nobel da Matemática", diz Jorge Buescu, acrescentando que foi a partir daí, de 1967, que se passou a "baptizar" as Medalhas Fields como o "Nobel" da Matemática.

Outra vez as mulheres...
As medalhas Fields são atribuídas de quatro em quatro anos, "nos anos dos campeonatos do Mundo de futebol", desde 1930. Já foram entregues cerca de 60 medalhas, mas sempre a homens. Até este ano.

Em 2014, fez-se história: pela primeira vez, foi atribuída uma medalha a uma mulher, uma iraniana, de nome Maryam Mirzakhami. "É uma professora de Princeton, que se recusa, simplesmente, a dar entrevistas, porque, de facto, se ela quisesse, neste momento, seria capa de todos os jornais e revistas", diz Jorge Buescu.