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Há partículas portuguesas no sexagenário CERN

29 set, 2014 • Henrique Cunha

O laboratório de investigação europeu celebra 60 anos esta segunda-feira. Nele trabalham mais de 200 investigadores portugueses. Estão preocupados com o futuro da ciência em Portugal.

Há partículas portuguesas no sexagenário CERN
André Tinoco Mendes e Eduardo Rodrigues são apenas dois dos mais de 200 cientistas portugueses que trabalham no maior centro de investigação em física de partículas do mundo. O CERN - Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear faz 60 anos esta segunda-feira.

"Qualquer estudante do CERN encontra facilmente emprego na indústria", diz à Renascença André Tinoco Mendes, que está desde 2000 no laboratório de Genebra, na fronteira franco-suíça.

Começou o seu doutoramento na experiência "NA60" e hoje lidera o grupo que estuda as propriedades do bosão de Higgs, uma partícula elementar cuja descoberta foi anunciada nos anos 1960 e confirmada em Março do ano passado.

"O bosão de Higgs completa a teoria das interacções das partículas elementares. Era a pedra de toque que faltava e que completa esta teoria", explica o físico.

O CERN é financiado por 21 Estados-membros. Portugal aderiu em 1985. O ministro da Ciência, Nuno Crato, estará esta segunda-feira na cerimónia de aniversário.

Ciência sem "questiúnculas"
Dos 14 anos que leva de experiência na Suíça, André Tinoco Mendes destaca sobretudo a capacidade de colaboração na investigação de pessoas de diferentes culturas.

O laboratório junta "palestinianos e israelitas, indianos e paquistaneses". Juntos trabalham para tentar perceber de que é feito o Universo, sem "questiúnculas políticas ou questões fronteiriças".

A partir do CERN, André olha com apreensão para a ciência em Portugal, em particular para a forma como se avaliam os centros de investigação.

"Claramente há qualquer coisa estranha que está a acontecer", diz. "As perspectivas de emprego científico em Portugal são complicadas". 

Impacto na sociedade
Dois anos depois de André Tinoco Mendes, chegou ao CERN um outro português oriundo de Manchester, na Inglaterra, para onde foi estudar na adolescência.

Eduardo Rodrigues conseguiu a bolsa Marie Curie da União Europeia, "logo após o doutoramento".

Tinha "bastante interesse na experiência LHCB" ("Large Hadron Collider beauty") e hoje é um dos coordenadores de um grupo de trabalho de física da LHCB.

Do trabalho de seis décadas do CERN, recorda a contribuição para o desenvolvimento da internet e outras experiências do ponto de vista tecnológico, como "terapias, como a radioterapia e o raio X", com impacto na sociedade.

A física e as pessoas
A física de partículas, diz André Tinoco Mendes, está mais próxima das pessoas do que se possa pensar.

Dá o exemplo de um projecto com participação portuguesa, a "Tomografia por Emissão de Positrões". "Permite ver onde é que o açúcar está a ser utilizado pelas células", refere.

Como é sabido "que as células cancerígenas consomem muito mais glucose do que as outras", "permite ver a actividade cancerígena" e "uma detecção muito mais precoce da doença".