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Entrevista

"IPO Porto é uma casa de esperança"

17 abr, 2014 • Joana Costa

No dia em que completa 40 anos, o Instituto de Oncologia do Porto passou a incluir "Esperança" no nome. "Deixou de ser uma casa em que as pessoas procuravam cuidados terminais para ser uma casa onde se procuram tratamentos para viver", diz o presidente do Conselho de Administração.

"IPO Porto é uma casa de esperança"

O IPO do Porto comemora 40 anos esta quinta-feira com uma mudança simbólica de nome: passa a chamar-se Instituto Português de Oncologia e Esperança.

A alteração, diz o presidente do Conselho de Administração, traduz a realidade dos números. Portugal está ao nível dos melhores do Norte da Europa, garante Laranja Pontes.

As comemorações dos 40 anos do IPO Porto incluem uma homenagem aos colaboradores do instituto e a entrega das bolsas de investigação em oncologia para 2014. O IPO Porto vai atribuir 300 mil euros a seis projectos. O programa terá ainda um concerto solidário, esta quinta-feira, às 21h, no Pavilhão Rosa Mota, no Porto. As verbas revertem para a remodelação das instalações hospitalares.

A que se deve esta mudança simbólica de nome?
 A ideia surgiu há uns meses, quando apareceu a avaliação da sobrevivência dos doentes com cancro na Europa, o “Eurocare 5”. Surpreendentemente, as estatísticas mostraram que Portugal, Espanha e Itália têm estatísticas de sobrevivência semelhantes à Suécia, Noruega e Finlândia. Pensámos: “por que é que este hospital não há-de ser um hospital de esperança?”. Isto é motivo de muita esperança e orgulho. Com a evolução da ciência, as taxas de sobrevivência vão ser cada vez maiores. Cada vez mais o cancro vai ser controlado para deixar de ser um estigma.

O que traduzem essas estatísticas?
Em números corresponde a que perto de 60% dos nossos doentes ao fim de cinco anos estão vivos. Isto deixou de ser uma casa em que as pessoas procuravam cuidados terminais para ser uma casa onde se procuram tratamentos para viver. Nalgumas doenças, como, por exemplo, no cancro da mama, já temos mais de 80% de taxa de sucesso. Nas crianças, a sobrevivência nas leucemias também é perto de 80%. Isto é uma casa de esperança. É preciso deixar de pensar no IPO como uma casa de sofrimento ou de dor, como era simbolizada pelo antigo caranguejo no nosso anterior logótipo.

A esperança desses números está agora literalmente visível nas paredes do hospital. Como nasceu a ideia das 70 frases da esperança em exposição nos corredores?
Pedimos a um poeta – entre os nossos doentes temos uns poetas e artistas – se ele queria fazer uma pesquisa sobre frases de esperança. Passados uns dias, enviou-me as 70 frases e achei que eram um bom motivo para redecorar as paredes do instituto.

O que mudou em 40 anos de IPO Porto?
Em 40 anos, a nossa instituição, de um pequeno centro que administrava radiações de cobalto e onde se faziam alguns rastreios, transformou-se no maior prestador de cuidados nacionais de oncologia. Temos uma dimensão significativa, já certificada e acreditada por entidades internacionais. Agora, está na altura de tentar proporcionar a criação de uma rede de oncologia de base colaborativa. Em vez de esperarmos que haja um decreto de lei que organize qualquer coisa, nós próprios organizarmos uma maior articulação entre instituições e um serviço de consultoria do IPO às unidades menos especializadas. Temos uma intensidade grande de infra-estruturas tecnológicas, aparelhos de topo de gama, não é preciso existirem outras instituições com esses aparelhos. A maior parte das intervenções em cancro, muitas delas, são a cirurgia e a oncologia médica, que podem ser feitas em hospitais periféricos mais junto das comunidades. Queremos contribuir com o nosso "know how".

Destes 40 anos de vida do IPO, quantos são seus?
Os meus anos aqui nesta instituição são… 26. Mas ligado ao IPO são mais ou menos 30. Passei cá como interno e acabei por vir para cá. E, ao fim de 26 anos, sou presidente do conselho de administração.

O cancro ainda tem segredos para si?
Ainda vivemos muito na ignorância sobre as causas. E muitas vezes encontramos na nossa prática clínica doentes em que dizemos “como é que sobreviveu?”. São perguntas que, para já, continuam sem resposta.