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"Não somos vítimas." Conselhos de uma diabética que voltou a ver

14 nov, 2013 • Marta Grosso

Mafalda Almeida Fernandes soube que tinha diabetes aos 15 anos. Descurou as regras e sofreu as consequências. Hoje, fala da sua experiência e tem uma mensagem a transmitir neste dia mundial dedicado a reflectir esta doença.

Os diabéticos não são "vítimas de nada". A doença obriga a hábitos saudáveis: comer bem, fazer exercício físico e descansar o necessário. Mas nem toda a gente se dá com regras. Foi o que sucedeu com Mafalda Almeida Fernandes.

Diabética do tipo 1 desde os 15 anos, decidiu, "no auge da adolescência", não cuidar de si. "Não me apetecia ter obrigações. Durante muitos anos, não administrei a insulina suposta, não comia o que devia comer", conta.

Aos 19 anos, o organismo de Mafalda começou a falhar. "Comecei a acumular 'patias'". Neuropatia, retinopatia, nefropatia, nomes estranhos para falências com efeitos reais ao nível dos intestinos, da visão e dos rins. A agora professora de Inglês ficou cega e recebeu há três anos um rim da mãe. Hoje, faz hemodiálise quase todos os dias. 

Mafalda Almeida Fernandes, actualmente com 32 anos, tornou-se apologista da responsabilidade individual. "Cada pessoa tem de se sentir responsável por todas as suas atitudes, escolhas e decisões e ter o poder pessoal nas suas mãos." 

Mais: considera que não se deve entregar a vida e a solução da doença aos médicos. "Eu gosto muito de médicos, mas eles não são eles que têm a diabetes." 

Mafalda já vê. Os médicos não acreditavam que tal fosse possível. "Fui à procura de outras opiniões e encontrei um médico em Coimbra que me operou ao olho esquerdo e foi um sucesso. Este médico não me quis operar ao olho direito, porque dizia que era um olho morto, mas eu continuei à procura de outras opiniões e encontrei um outro médico em Lisboa que me operou e já recuperei a visão de ambas as vistas."

A diabetes pede doçura
A diabetes está relacionada com o aumento de açúcar no sangue. Mafalda diz que o corpo pede doçura. "Doçura no sentido de carinho, de amor, de cuidar. Meiguice. É mais do que atenção, mais profundo."

A mensagem do corpo é "muito forte". Depois de tudo por que passou, Mafalda reconhece que "há coisas que podem não voltar para trás", mas o que já aprendeu é para ficar. "O que tenho nas mãos quero aproveitar e bem. Quero cuidar de mim e bem, de todas as formas. Não consigo apagar anos de maus cuidados, mas são sempre grandes aprendizagens. Mas não somos vítimas de nada. As coisas não acontecem por acaso e é preciso perceber a mensagem que existe para nós." 

O dia mundial da diabetes é assinalado esta quinta-feira. A doença atinge mais de 371 milhões de pessoas em todo o mundo e não foi ainda diagnosticada em mais de 50% dos casos. Os dados constam do relatório anual da diabetes de 2012.

O documento estima que, em 2030, o número de pessoas afectadas no mundo atinja os 552 milhões, o que representa um aumento de 49% da população.

Sendo uma doença crónica, a diabetes obriga a rotinas que são para a vida. As horas para comer são para cumprir e as de descanso também, as injecções de insulina são para manter, tal como as medições dos níveis de açúcar.