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Disparou o consumo de antidepressivos

18 jun, 2013

"Há um acentuar dos problemas de saúde mental, normalmente muito associados ao desemprego", revela uma especialista.

O consumo de medicamentos antidepressivos disparou no último ano, revela o relatório da Primavera do Observatório Nacional dos Sistemas de Saúde, apresentado esta terça-feira em Lisboa.

"De facto, há um acentuar dos problemas de saúde mental, normalmente muito associados ao desemprego. Está a aumentar o consumo de antidepressivos e isto é um alerta", afirma à Renascença a coordenadora do estudo, Ana Escoval.

A informação tem por base os dados registados numa unidade do Alto Minho e não surpreende outro coordenador do relatório.

"Os quadros de depressão estão a aumentar e isso é expectável numa situação como esta. O que é necessário é ter medidas que dêem resposta, quer do ponto de vista de ter um sistema de vigilância que permita perceber o que está a acontecer no terreno, quer do ponto de vista de ter um plano de contingência que permita actuar preventivamente e isso é que temos mais dúvidas de que exista", afirma Manuel José Lopes.

De acordo com o mesmo estudo, as dificuldades económicas, aliadas ao aumento das taxas moderadoras, estão a condicionar o acesso à saúde, sobretudo dos grupos mais vulneráveis, como os idosos, que estão a adiar as idas ao médico e ao dentista, bem como a atrasar a compra de óculos e até a espaçar a toma de medicamentos para cortar nos gastos.

"As pessoas, por razões económicas, sociais, estão a ficar mais empobrecidas, mas também mais doentes e o que será importante é o Ministério da Saúde antecipar respostas para esse aumento de procura, de situações de maior doença e apoiar no sentido de retirar obstáculos que o sistema tenha", refere Ana Escoval.

A prestação de cuidados paliativos foi, pela primeira vez, analisado pelo Observatório, que concluiu que Portugal está muito longe de ter a oferta suficiente para satisfazer as necessidades do país.

"Sabemos que os hospitais estão a reduzir as suas camas. Esta área já é muito carenciada e isso agudiza [a situação]. Achamos que há um desajuste entre o que as pessoas preferiam ter e o que realmente temos, em termos de resposta. Há uma escassez em termos de cuidados paliativos, sobretudo domiciliários", descreve a coordenadora.

Ouvido pela Renascença, o presidente da União das Misericórdias, Manuel Lemos, considera que os dados do relatório provam que está na altura de o Governo permitir a colaboração do sector social nos cuidados primários de saúde.

"Não é por acaso que, na rede de cuidados, por vezes eu reclamava mais unidades de cuidados paliativos. Mas o que faz sobretudo sentido é fazermos formação para que as pessoas que lidam com aqueles cujo ciclo de vida está a terminar sejam tratados com dignidade, de modo a que se sintam acarinhados e bem tratados nos últimos momentos da sua vida", defende Manuel Lemos.