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Cinema

Revisitar Aristides, o herói desobediente

08 nov, 2012

“Heróis que matam há muitos, heróis que salvam há poucos”, afirma o actor Vítor Norte, que faz de Aristides de Sousa Mendes, o diplomata português que salvou milhares de judeus durante a II Guerra Mundial.

Revisitar Aristides, o herói desobediente
O filme "O Cônsul de Bordéus" recua a 1940 para retratar a vida de Aristides de Sousa Mendes, o diplomata que desobedeceu a Salazar e concedeu vistos em massa, salvando milhares de judeus dos campos de concentração. O actor Vítor Norte veste a pele do cônsul e conta o que o fascinou no projecto, que venceu este fim-de-semana o festival Caminhos do Cinema Português, em Coimbra.

Chega esta quinta-feira aos cinemas portugueses a primeira longa-metragem inspirada na história de Aristides de Sousa Mendes. “O Cônsul de Bordéus” regressa a 1940 para retratar a vida do diplomata que desobedeceu a Salazar e concedeu vistos em massa, salvando 30 mil refugiados, 10 mil deles judeus.

Vítor Norte empresta as feições ao cônsul português. Uma tarefa que encarou como uma responsabilidade de peso. “Heróis que matam há muitos, heróis que salvam há poucos”, sublinha o actor.

Para construir a personagem, leu tudo o que podia, conversou com familiares de Sousa Mendes. Surpreendeu-se com a afeição dos portugueses pelo cônsul. Recorda a altura em que, juntamente com os realizadores Francisco Manso e João Correa, percorreu vários oculistas de Lisboa “a procurar uns óculos que dessem mais ou menos para aquela época” e “praticamente toda a gente conhecia o Aristides e tinha grande admiração por ele”.

Mendes teve um papel fulcral na vida de muitos, ao decidir desobedecer a uma ordem de Salazar, que tinha proibido a emissão de vistos a judeus nas embaixadas portuguesas. O filme revisita a sua história através de uma personagem ficcionada, mas que podia ser real: um maestro é entrevistado por uma jornalista e recorda como foi salvo da perseguição nazi, aos dez anos, pelo cônsul português.

“O Cônsul de Bordéus” abriu a semana do cinema português em Telavive, Israel, em 2011, perante uma sala esgotada. “Foi uma recepção entusiástica, as pessoas no fim bateram palmas, vieram abraçar-me, falaram do Aristides... Mas o mesmo aconteceu na Índia, onde o filme abriu um festival gigante. Em Bruxelas teve um acolhimento extraordinário, as pessoas bateram palmas uma quantidade de minutos, de pé...”, recorda.

“O Cônsul de Bordéus” deverá depois ser exibido em escolas, “para as pessoas mais novas saberem quem foi o Aristides”. O actor acredita que o filme poderá também ser importante para agilizar “a reconstrução da casa de Aristides, que está completamente a cair. Mais um Inverno e não sei se ficará mesmo no chão”.

Com argumento de António Torrado e João Nunes, o filme é uma produção de Portugal, Espanha e Bélgica, filmada entre Viana do Castelo e Bordéus.