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UNESCO distingue biblioteca ambulante beirã

07 nov, 2012 • Célia Domingues

O responsável Nuno Marçal senta-se repetidamente frente a crianças e idosos para ler poemas da literatura popular, emprestar livros e trazer a cultura mesmo aos locais mais isolados.

Na estrada desde Junho de 2006, a “Bibliomóvel” de Proença-a-Nova  é conduzida por Nuno Marçal, bibliotecário, que também vai ao jardim de infância e aos centros de dia e instituições da Santa Casa da Misericórdia durante o período da manhã.

É um projecto que acaba de ser reconhecido pela UNESCO pelo trabalho de promoção da leitura por terras da Beira Baixa.

Na Santa Casa de Sobreira Formosa, Nuno Marçal senta-se frente a uma dúzia de idosos para ler poemas da literatura popular do distrito de Beja. “Trabalha homem trabalha, se queres ter algum valor, os calos são os anéis, do homem trabalhador”, declama.

Estão ali alguns ex-“ratinhos”, nome dado aos beirões que iam trabalhar para os campos alentejanos na década de 40. A leitura é interrompida por cantares ao desafio: “Eu já te ensino a cantar”, atira uma senhora.

A maioria dos que acompanham a leitura do bibliotecário não sabe ler nem escrever, explica Nuno Marçal. “A senhora sabia do projecto, mas como não pode sair de casa por causa de um problema que tem nas pernas, deve ter tido conversa com uma prima ou sobrinha, e estava no meio da estrada e mandou-me parar. Pronto e ficou combinado, como ela não pode sair de casa, vai a ‘Bibliomóvel’ a casa dela.”

A cultura em forma de livro regressa sobre quatro rodas daí a 15 dias à aldeia. Até lá, o livro que cada um levou para casa é um amigo, uma companhia contra a solidão.