Emissão Renascença | Ouvir Online

“Enquanto tivermos um livro, não estamos sozinhos"

24 out, 2012 • Maria João Costa

Escritores regressaram à escola por um dia no arranque do 1º Festival Literário de Castelo Branco.

“Enquanto tivermos um livro, não estamos sozinhos"

Um livro é sempre uma forma de viajar, mesmo em tempo de crise. A ideia foi deixada pela escritora Patricia Reis, esta quarta-feira, aos estudantes de Castelo Branco.

No arranque do 1º Festival Literário de Castelo Branco os escritores tomaram de assaltos as escolas do concelho. Os alunos encheram as salas e fizeram o trabalho de casa para ouvirem os autores e ilustradores que vinham falar da arte da escrita e do desenho. A reportagem da Renascença esteve no agrupamento escolar Faria de Vasconcelos a acompanhar uma sessão, onde descobriu um potencial escritor de nove anos.

As autoras Carla Maia de Almeida e Patricia Reis, e ilustradora é Danuta Wojciechowska foram de visita aos alunos do Agrupamento escolar Faria de Vasconcelos em Castelo Branco. Sentados, sossegados aprenderam que ilustrar um livro é também uma forma de escrever.

Além do gato desenhado por Danuta para um conto infantil de Mia Couto, a ilustradora nascida no Canadá explicou que há outros animais nas páginas dos livros. Ilustrações que até têm som.

Mas a mão é também capaz de escrever. A de Carla Maia de Almeida é rica em criar personagens. “Quando eu escrevo não sou só a Carla Maia de Almeida, porque, às vezes, é muito chato ser Carla Maia de Almeida e eu não quero ser só Carla Maia de Almeida. Eu quero poder ser, por exemplo, uma rainha, que tem um vestido com esta gola à Luiz de Camões, ou posso ser um gato vadio, um gato cor de laranja, ou até posso ser uma casa. A vantagem de ser escritor ou ilustrador, é ser uma espécie de criador, é podermos ser mil e uma coisas”.   

Não foi com os avós, mas com uma tia avó que Patricia Reis se tornou leitora e sonhou ser escritora. A tia Francisca gostava de romances de cordel, histórias de amor, que as duas liam às escondidas.

“No fundo, no fundo, o que a minha tia Francisca gostava mesmo de ouvir era aquelas histórias de amor, mas eram um segredo. A verdade é que eu aprendi a ler alto assim e aprendi a amar os livros, porque em vez de considerar aquele exercício como uma seca, a alegria da minha tia era tanta que eu entusiasmava-me tanto quanto ela e comecei a escrever as minhas histórias muito cedo, porque não havia livros suficientes que me entusiasmassem. Eu nunca quis ser outra coisa senão escritora”, confessa Patricia Reis.

Para a autora da colecção juvenil “O diário do Micas”, os livros são um bilhete para vários mundos: “Enquanto nós tivermos um livro na mão, não estamos sozinhos. Mesmo que não tenhamos um tostão e estejamos na maior das crises, podemos sempre viajar.”   

Na sala cheia da escola Faria de Vasconcelos houve já quem seguisse o exemplo, é o caso do Roberto, de 9 anos, leitor de palmo e meio ávido de histórias, com gosto pela leitura e, quem sabe, um potencial escritor.

Quanto ao Henrique, o Duarte e o Guilherme têm hoje muito para contar aos pais, sobre o dia em que os escritores foram à escola.