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Literatura

Um livro dentro de um livro que passeia nos transportes do Porto

23 set, 2011 • Maria João Costa 

Manuel Jorge Marmelo tem novo livro. “Uma mentira mil vezes repetida”, editado pelo Quetzal, chega hoje às livrarias.

Um livro dentro de um livro que passeia nos transportes do Porto
Pode um escritor imaginar outro escritor e escrever um livro real sobre um livro imaginário? A pergunta tem resposta no novo livro de Manuel Jorge Marmelo. “Uma mentira mil vezes repetida” conta a história de um narrador sem nome que passa os dias a divagar pelos transportes públicos do Porto com um livro debaixo do braço. 

“Cidade Conquistada” é uma obra inventada, escrita por Oscar Schidinski, um autor imaginado pelo narrador. Com mais de mil páginas e mil capítulos, “Cidade Conquistada” é o livro dentro do livro de Manuel Jorge Marmelo. 

Em entrevista ao Página 1, o autor, também jornalista do jornal “Público” explica que o protagonista de “Uma mentira mil vezes repetida” é afinal um homem só. “É uma pessoa, como boa parte das pessoas que andam por aí está desejosa de atenção e celebridade. Ele decide que uma possível maneira de se tornar célebre é circular com um livro inventado e ir inventando as histórias”, diz Marmelo. 

As histórias imaginadas pelo narrador apresentam-nos um desfile de personagens insólitas. Numa escrita bem-humorada, Manuel Jorge Marmelo recria a história do homem zebra ou conta as aventuras do escritor Marcos Sacatepequez. Todas elas cabem dentro de “Cidade Conquistada”, um livro que muda todos os dias. 

Esta “obra-prima” de um escritor húngaro amaldiçoado, explica Manuel Jorge Marmelo, “é publicada pouco antes de o eclodir da segunda Guerra Mundial. Os livros desaparecem quase todos, excepto um exemplar que vai ser recuperado numa biblioteca de uma universidade suíça. É editado supostamente em Inglaterra nos anos 70 e em Portugal uns anos depois por uma editora operária”. 

Ao autor de livros como “O homem que julgou morrer de amor” ou “”As mulheres deviam vir com livro de instruções” interessou-lhe também neste “Uma mentira mil vezes repetida” reflectir sobre o mundo editorial. Marmelo tem a sua obra publicada em duas editoras que foram à falência. O assunto surge em “Uma mentira mil vezes repetida”. “É uma forma de tentar expurgar esse fantasma” admite Marmelo. 

Para o autor que assume que se questiona “se esta coisa de escrever livros vale a pena”, “Uma mentira mil vezes repetida” é também um fechar de ciclo. “É o quarto livro de uma tetralogia que começou com “Os fantasmas de Pessoa”, depois teve “Onde o vento me levar” e há três anos “As sereias do Mindelo” . Todos eles são livros sobre livros, onde eu pensei a minha relação com a literatura”. 

Manuel Jorge Marmelo muda assim de página e de temas. Em declarações ao Página 1, sentado na livraria Bertrand entre livros, explica que “o próximo livro que já está pronto e que há-de sair no início do próximo ano é completamente diferente e é um passo em frente. O que se vai manter é o tema da intolerância” também aflorado em "Uma mentira mil vezes repetida", que hoje chega às livrarias pela mão da editora Quetzal. 

Jornalista do “Público”, Manuel Jorge Marmelo refugia-se na escrita dos livros. Nesta entrevista, que pode ouvir no "Ensaio Geral", da Renascença, depois das 23h00, diz que “Eu vou nadar ao jornalismo, mas ao fim do dia regresso à literatura no recato do meu lar”.