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Jogos transcritos em livro para as gerações da internet e dos tablets

21 abr, 2015 • Olímpia Mairos

Antropóloga reúne em livro, escrito em português e mirandês, 62 jogos tradicionais da região do Planalto Mirandês, mesmo aqueles já caíram em desuso.

Jogos transcritos em livro para as gerações da internet e dos tablets
Mónica Ferreira tem 33 anos e é natural de Genísio, concelho de Miranda do Douro. Durante três anos, recolheu, observou e registou a prática dos jogos que se realizavam na região e os pormenores que os diferenciavam do resto do país.

De gravador na mão, jogou os jogos da sua infância, para melhor perceber a atitude dos intervenientes, e superou desafios que, muitas vezes, não estavam ao alcance das mulheres.

“Transcrever para papel muito do que vi, quando o registo captado pelo gravador não era o suficiente, ou era pouco perceptível e com a falta de alguma informação, foi complicado”, conta a autora à Renascença.

O projecto surgiu para preservar “importantes elementos culturais identitários da região nordestina” que, de outra forma, cairiam “no esquecimento das gerações mais novas”.

O resultado é um livro que reúne 62 jogos tradicionais - “Jogos Tradicionais -Terras de Miranda” - ilustrado, escrito em português e mirandês, onde os jogos do Planalto Mirandês, mesmo aqueles já caíram em desuso ou cuja prática não é tão usual, são retratados da forma “mais fiel possível”.

O fito, a relha, o ferro ou a malha, a sueca, o chincalhão, o sobe e desce ou a cabra cega, o esconde-esconde, o jogo do pião, a bilharda, o batoque e o espicha são, assim, perpetuados em papel, para que as gerações da internet, do computador e dos tablets não lhes percam o rasto, refere Mónica Ferreira.

Jogos de ontem e de hoje
Segundo o historiador Hermínio Bernardo, conhecedor da realidade histórica das Terras de Miranda, os jogos tradicionais, agora reunidos em livro, remontam ao tempo da ocupação romana.

“Os povos que passaram pela Península Ibérica praticavam estes jogos, aos quais emprestaram um pouco da sua forma de estar na sociedade”, afirma o historiador, acrescentando que “estes jogos foram o encontro de povos e culturas e serviam para sociabilizar, para desenvolver o corpo e a mente e para competir”.

Mónica Ferreira evoca os jogos ancestrais, transmitidos de geração em geração, como passatempos lúdico-didáticos, que, com a sua prática, se aprendia “a contar, dividir, somar, partilhar e sobretudo a socializar”, defendendo que “estes jogos, que se vão perdendo no tempo, têm de ser recuperados”.

A recuperação, a preservação e a implementação dos jogos tradicionais nas escolas pode ser uma mais-valia para os jovens “pela sua diversidade e pelo que podem oferecer em termos de sociabilidade”, defende o historiador Hermínio Bernardo, acrescentando que “têm uma componente cultural e formativa muito grande” que ajuda ao desenvolvimento e à relação entre as pessoas.