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Ernesto de Sousa. Cartazes de uma vida a insultar o perigo

16 abr, 2015

Exposição "your body is my body — o teu corpo é o meu corpo" abre ao público no sábado, no Museu Colecção Berardo, em Lisboa.

Ernesto de Sousa. Cartazes de uma vida a insultar o perigo

A relação de Ernesto de Sousa com a arte e com os artistas é o fio condutor de uma exposição com 350 cartazes da colecção reunida por esta figura com interesses transdisciplinares que dedicou a vida às artes visuais.

A exposição "your body is my body — o teu corpo é o meu corpo" é inaugurada na sexta-feira, às 19h00, no Museu Colecção Berardo, em Lisboa, e abre ao público no sábado, dia 18 de Abril, data escolhida propositadamente para assinalar o aniversário do nascimento do artista, segundo Pedro Lapa, director artístico da entidade.

Durante uma visita guiada aos jornalistas, o responsável assinalou que esta selecção de cartazes foi feita a partir do acervo de mil obras no género reunidas por Ernesto de Sousa (1921-1988), ao longo da vida, datados de 1933 a 1988.

"Ele não era um coleccionador. Era um artista, um crítico, um curador e grande catalisador de artistas. E, por isso, esta exposição revela um conjunto de encontros que fazem um percurso de vida", explicou, sublinhando que Ernesto de Sousa "é uma figura fundamental e consagrada das artes em Portugal".

Um trabalho em curso
A exposição é comissariada por Isabel Alves, produtora cultural e companheira de Ernesto de Sousa a partir dos anos 1960, cujo espólio de cartazes continua a tentar identificar.

"Alguns cartazes são assinados, mas muitos não, e continuo a contactar artistas, coleccionadores, entidades públicas e privadas, para tentar descobrir os seus autores, disse aos jornalistas, sobre este trabalho constante de "detective".

A exposição, que estará patente no piso -1 do Museu Berardo, está dividida em vários núcleos, apresentando cartazes de artistas portugueses, estrangeiros, com os mais variados objectivos, desde o anúncio de exposições, filmes, peças de teatro, performances, mensagens políticas ou sociais.

Sobre o critério de selecção, Isabel Alves indicou que procurou mostrar "os artistas com maior contacto com o Ernesto de Sousa, aqueles com quem teve maior relação, e também as peças mais notáveis".

Helena Almeida, Alberto Carneiro e Ângelo de Sousa eram os artistas com quem Ernesto de Sousa privilegiou o contacto, e estão bastante representados, mas há dezenas de outros: João Abel Manta, Vespeira, José Brandão, Sena da Silva, Adriano Rangel, Leonel Moura, Julião Sarmento, Costa Pinheiro, Pedro Calapez e Fernando Calhau são alguns deles.

Também os estrangeiros com quem conviveu, nomeadamente Man Ray, Anna Vancheri, Hugo Demarco, Beuys, Wolf Vostell, e os mentores do manifesto internacional Fluxus, de 1966, estão representados nesta exposição, que também apresenta cartazes de causas cívicas, de direitos sociais ou políticos, como a defesa do Partido Black Panthers, nos Estados Unidos, ou a defesa da independência das antigas colónias portuguesas em África.

As várias facetas de Ernesto de Sousa
Em declarações à agência Lusa, Isabel Alves recordou, do convívio de décadas com Ernesto de Sousa, que "ele era uma pessoa muito frontal, e dizia aos artistas a sua opinião sobre as obras, fossem elas boas ou sem qualidade".

"Your body is my body - O teu corpo é o meu corpo" é o título desta exposição, reveladora do panorama da produção cultural das neo-vanguardas em Portugal e na Europa.

Nascido em Lisboa, José Ernesto de Sousa deixou uma vasta obra criativa nas áreas da fotografia, cinema, música, teatro. Fez também crítica de arte, dedicou-se à historiografia e à intervenção intermédia.

Ao longo dos anos 1960 e 1970, em ruptura com a geração e as sensibilidades do seu próprio tempo, assumiu uma imagem de artista agitador e de utopista, uma espécie de "consciência crítica" do universo cultural, à semelhança do que fora Almada Negreiros, personalidade que estudou e admirou.

Foi sua a iniciativa "Alternativa Zero", exposição provocadora que marcou a sociedade portuguesa em 1977, e lançou artistas hoje consagrados como Helena Almeida, Julião Sarmento, Noronha da Costa, Ângelo de Sousa e Leonel Moura.

Ernesto de Sousa foi também o iniciador do movimento cineclubista em Portugal, dedicando toda a sua vida ao estudo das artes visuais.

O catálogo da exposição - que ficará patente até 27 de Setembro - será apresentado ao público no dia 14 de Maio, numa mesa-redonda com José Bártolo, Rui Santos e Isabel Alves, no anfiteatro do museu, às 18h00, com entrada livre.