Emissão Renascença | Ouvir Online

"Há muita treta na literatura de hoje"

16 abr, 2013 • Maria João Costa

No seu novo livro, Manuel Alegre escreve sobre a "ditadura dos mercados", que "invade as nossas vidas, nos rouba o horizonte, nos fecha o futuro e que é uma nova forma de pesadelo”.

Existe muita "muita treta na literatura" actual e o escritor não pode esquecer que tem uma responsabilidade cívica, afirma em entrevista à Renascença o poeta e histórico socialista Manuel Alegre, que acaba de lançar um novo livro.

"Tudo é e não é", é uma obra contaminada pelos sinais do tempo que Portugal vive, um tempo em que, diz Manuel Alegre, se perdeu o sentido de futuro e onde "o respeitável país que somos está de mão estendida", a pedir esmola.

A acção do novo romance é centrada em sonhos, em que o autor fala da "mão invisível" e da "ditadura dos mercados".

“Eu acho que nenhum escritor se pode dissociar do seu tempo, nem da responsabilidade cívica do seu tempo. Portanto, às duas por três também dei comigo a ver a mão invisível, uma figura sem braço, e que tem a ver com este tempo em que o império do dinheiro, o poder financeiro, aquilo a que se chama a ditadura dos mercados, invade as nossas vidas, nos rouba o horizonte, nos fecha o futuro e que é uma nova forma de pesadelo”, diz o histórico socialista.

Em entrevista à Renascença, Manuel Alegre admite que “há muita hipocrisia, egoísmo e muita treta na literatura de hoje”. Para o poeta, “a escrita de risco é aquela que vai ao fundo das coisas, coloca os problemas ou, pelo menos, as grandes perguntas”.

O narrador do livro "Tudo é e não é" cruza-se com um "respeitável cavalheiro de classe média a pedir esmola", uma metáfora do país assume Alegre, para quem é preciso continuar a sonhar, mesmo que os tempos sejam de pesadelo.

“O respeitável país que nós somos, com nove séculos de história, anda agora de mão estendida e pode haver uma grande erupção, sabe-se lá. Se as coisas não mudarem, penso que vai haver grandes sarilhos e grandes conflitos”, adverte Manuel Alegre.