Massacre na Síria pode ter sido cometido por alauitas

13 dez, 2012

Até 150 pessoas da religião alauita, a mesma de Bashar al-Assad, morreram ontem mas há sinais de que membros de uma milícia alauita podem ter sido responsáveis.

O que parecia ter sido apenas mais um acto numa guerra civil que há muito ganhou contornos de luta sectária, pode ter sido afinal muito mais complexo.

Entre 125 e 150 civis, quase todos da religião alauita, foram mortos ontem na aldeia de Aqrab. A seita alauita é a mesma a que pertence Bashar al-Assad e constitui a espinha dorsal do regime, apesar de os alauitas serem apenas cerca de 15% da população síria.

A maioria dos alauitas apoia o regime e teme os efeitos da queda do regime pelo que rapidamente se deduziu que as vítimas tivessem sido mortas por rebeldes anti-regime. Hoje, todavia, surgiram indícios de que os criminosos tenham sido membros de uma milícia pró-regime, a Shabiha, constituída precisamente por alauitas.

Vídeos publicados na internet mostram vários sobreviventes do massacre a serem tratados em hospitais do Exército Livre da Síria (ELS) e confortados por soldados deste grupo enquanto dizem perante as câmaras que foram os seus próprios correligionários que abriram fogo sobre eles.

“Os elementos da Shabiha vieram dizer que nos queriam proteger dos rebeldes, mas depois não nos deixavam partir”, diz um jovem que, segundo o New York Times, disse ainda que conhecia os milicianos pelo nome próprio. “Mataram o meu pai, a minha mãe e o meu irmão”, conclui.

Outro afirma, em conversa com um soldado do ELS: “Eles disseram que era melhor matarmo-nos do que esperar que vocês nos matassem. Eram do nosso grupo”.

Caso se confirme que o massacre foi perpetrado por alauitas fica por explicar a razão por detrás do acto. Algumas fontes indicam que a milícia poderá ter tentado usar os civis como escudos humanos e outros sugerem que a ideia era culpar os rebeldes pelo massacre.

Fonte síria contactada pela Renascença confirma a existência destes testemunhos mas manifesta reservas sobre a credibilidade da versão apresentada pela ELS.

A religião desempenha um papel importante no actual conflito na Síria. Os alauitas apoiam na sua maioria o regime enquanto a esmagadora maioria dos rebeldes são muçulmanos sunitas. Os cristãos, cerca de 10% da população, tendem a apoiar Assad, uma vez que vêem o regime como garante de protecção contra o fundamentalismo islâmico, mas dão sinais crescentes de afastamento.