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Carta Apostólica de Bento XVI regula instituições de acção social da Igreja

06 dez, 2012

D. Nuno Brás considera que há muitas instituições politicamente “apetecíveis” e, por isso, era necessário haver uma “advertência” por parte do papa.

O Bispo auxiliar de Lisboa diz que era mesmo necessário o novo documento do Papa para regular as instituições de acção social e humanitária da igreja.

“Este documento vem chamar a atenção dos bispos para a nomeação das pessoas e para os objectivos das instituições. As que usam o nome católico devem ter os seus objectivos muitos claros, não podem ter objectivos contrários à doutrina social da igreja, devem viver o máximo possível a doutrina social da igreja", disse.

A Carta Apostólica publicada sábado - e que vai entrar em vigor dia 10 - reforça o papel de vigilância dos bispos, lembrando que devem escolher para responsáveis pessoas que partilhem, ou pelo menos respeitem, a identidade católica destas obras.

Para D. Nuno Brás, a advertência justifica-se porque há muitas instituições politicamente “apetecíveis”. "Estas instituições são politicamente apetecíveis. Infelizmente conheço o caso de algumas. Por exemplo, não é da agora, é um caso de há muitos anos, o da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, que era na sua raiz uma instituição católica e hoje em dia é do Estado.
São Instituições muito apetecíveis porque dão à pessoa uma certa visibilidade, e facilmente se assiste ao assalto aos cargos directivos de pessoas com muita disponibilidade, mas que têm uma segunda intenção”, disse.

Na Carta Apostólica, o Papa refere as instituições devem evitar ser financiadas por entidades que não respeitem a doutrina da igreja.

Para o juiz Pedro Vaz Patto não é demais o documento lembrar que, na questão do financiamento, os fins não justificam os meios. "Este é um aspecto que o documento vem clarificar. Os fins não justificam os meios. A necessidade de obter financiamentos para fazer face a determinadas necessidades urgentes não justifica tudo, não justifica receber financiamento de instituições que são contrárias aos fins da igreja, e essa colaboração ou esse benefício até pode ser um contra- testemunho".

O juiz partiu do recente caso de uma instituição que recusou donativos angariados pelos concorrentes de um "reality show", por não se rever no programa.

A jornalista Aura Miguel considera que o ideal seria não ter sido necessário o papa publicar este documento porque ele revela que as coisas não estão bem.

“Quando vem aqui, nos vários artigos, que é dever dos bispos cuidar, que as obras de caridade da diocese não devem ter pessoas com convicções contrárias à igreja, que se deve evitar que os organismos sejam financiados por entidades ou instituições que prossigam em contraste com a igreja, isso significa que esse problema existe em Portugal também. Recordo os problemas que houve ligados às misericórdias".

No debate desta quarta-feira, na Renascença, também se falou da forma como a igreja acolhe e lida com as pessoas com deficiência e da adesão do Papa à rede social do Twitter.