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"Se querem ajudar a Síria, resolvam o conflito israelo-palestiniano"

23 jul, 2012 • Filipe d’Avillez

"Esse conflito é a base e a causa primordial da maioria dos infortúnios, crises e guerras no mundo árabe", escreve o Patriarca católico da Síria. Gregorios Laham III rejeita ainda que exista qualquer conflito entre cristãos e muçulmanos na Síria.

"Se querem ajudar a Síria, resolvam o conflito israelo-palestiniano"
"Se querem ajudar os cristãos na Síria e contribuir para a paz neste país", os países estrangeiros devem preocupar-se primeiro "em resolver o conflito israelo-palestiniano", afirma o Patriarca Gregorios Laham III, da Igreja Melquita, que tem a sua sede em Damasco.

"Esse conflito é a base e a causa primordial da maioria dos infortúnios, crises e guerras no mundo árabe”, escreve o patriarca desta igreja católica oriental, numa reflexão sobre a actual crise na Síria.

Gregorios começa o seu texto por enfatizar que a maior ameaça para a Síria neste momento é a “anarquia, a falta de segurança e a entrada maciça de armas de todos os lados”.

Os cristãos, diz, são também vítimas deste perigo e, acrescenta, são o “elo fraco”. “Indefesos, são o grupo mais sujeito a exploração, extorsão, rapto, tortura e até eliminação. Mas são também os construtores da paz, desarmados, apelando ao diálogo, reconciliação, paz e unidade entre todos os filhos e filhas da mesma pátria”. 

O Patriarca rejeita que exista qualquer conflito entre cristãos e muçulmanos e insiste que os cristãos não são atacados por serem cristãos, mas sim no contexto geral de falta de segurança.

Gregorios dedica então vários parágrafos do seu documento a refutar a ideia de que os cristãos na Síria, divididos entre várias confissões, são de alguma forma manipulados pelo regime ou que têm as suas liberdades condicionadas por proximidade a ele.

Qualquer sugestão contrária, dá a entender o Patriarca, apenas dificulta mais a situação dos cristãos em países árabes. Da mesma forma Gregorios Laham III não poupa críticas a grupos ocidentais que têm alertado para o perigo que os cristãos enfrentam na Síria e noutros países do Médio Oriente. O Patriarca indica que estes grupos estão mais interessados nos seus próprios interesses: “Europeus: não escondam os vossos interesses por detrás do zelo pelos cristãos”.

O líder da Igreja Melquita é conhecido por ser um fervoroso defensor da identidade árabe dos cristãos no Médio Oriente e já chegou várias vezes a usar o termo “Igreja do Islão” para descrever os melquitas, querendo com isso dizer que se trata de uma igreja que está intimamente ligada ao mundo árabe, que sofre com os seus desgostos e se alegra com as suas alegrias.

Esta proximidade é ilustrada por outra passagem do documento que agora sai a público: “O mundo islâmico precisa da presença cristã, com ela e por ela, em relação e interacção, como tem sido o caso historicamente. Esta presença há-de continuar e precisa de continuar. Digo que o Islão precisa do Cristianismo e que os muçulmanos precisam dos cristãos e estaremos com eles e por eles, como temos feito no passado e ao longo de 1433 anos de história comum”.

O texto do Patriarca pode ser lido aqui na íntegra, em inglês