Bíblia portuguesa gera pequeno "culto" em Nova Iorque

21 dez, 2011 • Agência Lusa [Paulo Dias Figueiredo]

Todas as semanas dezenas de pessoas assistem ao “virar da página” da Bíblia, seguida de uma palestra. A curadora do museu de Nova Iorque elogia a qualidade da peça.

Bíblia portuguesa gera pequeno "culto" em Nova Iorque
A Bíblia sefardita de Cervera, emprestada pela Biblioteca Nacional ao Metropolitan Museum of Art de Nova Iorque, gerou um pequeno culto na cidade, com largas dezenas de pessoas a participarem nas palestras sobre as suas ilustrações.

Todas as segundas-feiras, as curadoras do Met viram uma página da Bíblia, um documento com mais de 700 anos e exemplar raro pela qualidade, profusão e grau de conservação das ilustrações, e esta semana, a das festas judaicas do Hannukah, será a vez da mais conhecida delas, a do candelabro judaico conhecido por Menorah.

“A menorah é provavelmente a imagem mais famosa de toda a Bíblia, a mais publicada e conhecida. É uma imagem maravilhosa tirada do texto bíblico em que uma oliveira alimenta a menorah, ligando directamente a árvore e cada um dos sete ramos” do candelabro, disse à Lusa Melanie Holcomb, uma das curadoras responsáveis pela mostra, até 16 de Janeiro.

Elaborado na localidade espanhola de Cervera por volta de 1300 pelo iluminador Joseph Asarfati, o tomo é mostrado num expositor na galeria de Arte Medieval do Met, uma das mais centrais e por onde passam mais visitantes.

Está acompanhada por um letreiro – “A Bíblia Hebraica de Lisboa: Arte Medieval Judaica Contextualizada” - de outros textos judaicos da mesma época e de algumas peças em metal e ilustrações semelhantes, feitas em França e Espanha.

Sem dispor de um número aproximado de "espectadores", Holcomb afirma que a melhor medida de que dispõe é "o número de impressões de narizes na caixa, e é impossível mantê-la limpa".

Para acompanhar cada virar de página, Holcomb dá palestras todas as semanas, e diz que perto de 50 pessoas estão a frequentá-las, quando o normal noutras mostras semelhantes é cerca de 15.

“Como é num salão onde os tectos são altos, tenho de gritar para que as pessoas me possam ouvir. Mas é óptimo, não tenho problemas em perder a voz por causa disso”, disse a curadora da galeria de Arte Medieval.

“Já conheço as suas caras, sei que temos seguidores. Definitivamente há um público. Recebo telefonemas, cartas, e-mails de pessoas a querer saber quando mudamos a página. Há realmente um grupo de seguidores”, adiantou.

Mais do que judeus, o público é “misto e atraído por um manuscrito belo e envolvente". São "pessoas de várias confissões”, garante

A Bíblia de Cervera é “um manuscrito extraordinariamente importante para toda a Idade Média” e “um dos mais sumptuosamente ilustrados”, sendo uma obra-prima única de Joseph Asarfati a chegar até aos nossos dias.

“É uma gama extraordinária de imagens que são muito frequentemente retiradas de metais e manuscritos contemporâneos franceses e combinados nesta Bíblia de uma maneira que é absolutamente magistral e muito criativa”, diz a curadora.

“Manuscritos hebraicos sobreviventes são muito poucos e, em temos do nível de qualidade, este é muito elevado”, adiantou a curadora do Met.