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Anglicanorum Coetibus

Os anglicanos que voltaram para casa

04 nov, 2011

A decisão de abraçar a fé católica não foi fácil mas ninguém se mostra arrependido. A Renascença foi conhecer o ordinariato pessoal para ex-anglicanos, no Reino Unido.

Os anglicanos que voltaram para casa
A Renascença foi conhecer o ordinariato pessoal para ex-anglicanos, no Reino Unido.Cumprem-se hoje, 4 de Novembro, dois anos sobre a publicação de Anglicanorum Coetibus, a constituição apostólica que abriu as portas a milhares de anglicanos que queriam entrar para a Igreja Católica sem perder aspectos da sua liturgia e património religioso. Hoje o ordinariato é composto por cerca de mil fiéis e 60 sacerdotes, incluindo cinco ex-bispos anglicanos.
Cumprem-se hoje dois anos sobre a publicação de Anglicanorum Coetibus, a constituição apostólica que abriu as portas a milhares de anglicanos que queriam entrar para a Igreja Católica sem perder aspectos da sua liturgia e património religioso.

A estrutura formal, a que se deu o nome Ordinariato Pessoal de Nossa Senhora de Walsingham, só foi montada em Janeiro de 2011 e passados alguns meses a Renascença foi visitar a comunidade de Tunbridge Wells para saber como está a decorrer a experiência.

A missa das 9h15 decorre numa igreja moderna, muito diferente das antigas e bonitas igrejas anglicanas que muitos destes fiéis tiveram de deixar para trás. A solenidade e o cerimonial, contudo, não desiludem.

Padres com tricórnios, incenso em abundância, grandes partes da missa celebradas “ad orientem”, ou seja com o padre de costas para a congregação e voltado para o altar. Estamos perante ingleses que pertenciam à chamada “high church”, um ramo do anglicanismo que preza os aspectos litúrgicos tradicionais e que rapidamente abraçaram a proposta de Bento XVI.

Para muitos a decisão de ordenar mulheres para o episcopado, que está prestes a tornar-se realidade na Igreja Anglicana, foi a gota de água mas, explica o padre Ed Tomlinson, o problema de fundo é maior.

“Isso é apenas um sintoma de uma corrente mais profunda e mais preocupante que descobrimos e que tem mais a ver com a natureza da autoridade. A questão da ordenação de mulheres e as outras coisas que se passam na Igreja Anglicana são sinais de uma igreja que promove a escolha pessoal acima da obediência aos ensinamentos da Igreja pelos séculos. No fundo foi essa fé, esse catecismo, esse magistério da Igreja Católica que se tornou tão atractiva. Percebi que precisava disso”, diz o sacerdote que, como muitos dos cerca de 60 que já tomaram a decisão, é casado e tem dois filhos.

Carol, uma paroquiana, explica que para ela a própria noção de eucaristia foi crucial. “Para mim a grande questão é a transubstanciação. Acredito firmemente na presença divina e a Igreja Anglicana tem uma abordagem mais neutra do género «acredite no que quiser». Para mim é fundamental e sinto que a fé católica sempre a defendeu”.

Decisões difíceis
Apesar da alegria com que acolheram o Anglicanorum Coetibus, as decisões em muitos casos foram difíceis. Para trás ficaram mais do que edifícios bonitos, ficaram em alguns casos membros da família e amigos, toda uma vida de fé, como explica Michael: “Eu participava muito activamente na minha igreja. Era responsável pelo comité financeiro, servia de várias formas, mas no fim de contas é uma questão de perceber para que serve a Igreja? É sobre a questão social, ou sobre a oração? Quando decidimos onde recai a nossa lealdade percebemos que é sobre Deus e isso torna mais fácil a decisão”.

No seu caso a passagem ao Catolicismo foi familiar, mas cada um tomou a decisão por si. “Foi difícil para todos. A minha mulher e eu tomámos a decisão separadamente, há mais de um ano. Como os meus dois filhos são adultos, deixámo-los decidir sozinhos e eles optaram por vir também”.

O facto de poderem manter aspectos da sua liturgia, em muitos casos mais rica e refinada que o comum das paróquias católicas, foi uma concessão muito importante e pela qual estão muito agradecidos ao Papa. Para alguns foi decisivo, mas para Carol a decisão estava tomada de qualquer maneira: “Teria tido muitas saudades da riqueza e da beleza da nossa liturgia, mas teria de sacrificar isso para seguir a fé católica”.

Em comunhão com Roma há cerca de um ano, o padre Ed Tomlinson não tem a menor dúvida de que tomou a decisão certa: “Não olhei para trás nem por um segundo. Não me arrependo nada. É como deixar uma coisa que pensava ser a Igreja, chegar a casa e encontrar a verdadeira Igreja. Há uma unidade fantástica, foi a melhor decisão da minha vida. Mas isso não significa que seja fácil, tem sido um verdadeiro carrossel, tem havido altos e baixos mas nada de arrependimentos, nem por um segundo”.

Michael fala de saudades dos seus amigos, mas no fundo concorda com o seu pastor: “Eles têm saudades nossas, perguntam-nos como estamos e dizemos que estamos bem. E temos saudades das pessoas, mas não do caminho que a Igreja Anglicana estava a fazer. Por isso estamos contentes com a nossa decisão”, confirma.

Quase um ano após a sua criação o ordinariato pessoal no Reino Unido é composto por cerca de mil fiéis e 60 sacerdotes, incluindo cinco ex-bispos anglicanos.