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Papa Francisco: "A nossa revolução é a evangelização"

07 jul, 2015 • Aura Miguel, no Equador, e Filipe d'Avillez

O Papa aproveitou o facto de estar numa praça dedicada aos movimentos independentistas da América do Sul para falar na necessidade de se evangelizar com paixão e urgência.  

Papa Francisco: "A nossa revolução é a evangelização"
Numa missa celebrada em Quito, capital do Equador, no "Parque do Bicentenário" das revoluções de independência de grande parte dos países da América do Sul, Francisco estabeleceu uma ligação entre esse desejo revolucionário de independência e a nova evangelização, tendo sempre por base o apelo de Jesus, na Última Ceia, de que os seus discípulos estejam unidos, para que o mundo creia.
O Papa Francisco disse esta terça-feira que a "revolução" dos cristãos é a "evangelização" e que a fé é sempre revolucionária.

Numa missa celebrada em Quito, capital do Equador, no "Parque do Bicentenário" das revoluções de independência de grande parte dos países da América do Sul, Francisco estabeleceu uma ligação entre esse desejo revolucionário de independência e a nova evangelização, tendo sempre por base o apelo de Jesus, na Última Ceia, de que os seus discípulos estejam unidos, para que o mundo creia.

"Imagino aquele sussurro de Jesus na Última Ceia como um grito nesta Missa que celebramos no 'Parque do Bicentenário'. O bicentenário daquele grito de independência da Hispano-América. Foi um grito, nascido da consciência da falta de liberdade, de estar a ser espoliados e saqueados, 'sujeitos às conveniências dos poderosos de turno'", afirmou o Papa, citando a sua encíclica "Evangelii Gaudium".

"Quereria que hoje os dois gritos coincidissem sob o belo desafio da evangelização. Não a partir de palavras altissonantes, nem com termos complicados, mas que nasça da 'alegria do Evangelho', que 'enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus'."

A passagem evangélica em que Jesus apela à unidade costuma ser usada como suporte para o diálogo ecuménico e os esforços de comunhão entre cristãos de diferentes confissões. Aqui, contudo, Francisco utiliza-o num sentido mais geral, de unidade fraternal entre todos os cristãos, incluindo entre católicos, no dia-a-dia.

"Jesus reza para que façamos parte duma grande família, na qual Deus é nosso Pai e todos nós somos irmãos. Isto não se fundamenta no facto de ter os mesmos gostos, as mesmas preocupações, os mesmos talentos. Somos irmãos, porque Deus nos criou por amor e, por pura iniciativa d'Ele, nos destinou para sermos seus filhos."

E esta unidade encontra-se ameaçada também no dia-a-dia, por vários factores, mas sobretudo pelo pecado, afirma o Papa. "Constatamos no dia-a-dia que vivemos num mundo dilacerado pelas guerras e a violência. Seria superficial pensar que a divisão e o ódio afectam apenas as tensões entre os países ou os grupos sociais. Na realidade, são manifestação daquele 'generalizado individualismo' que nos separa e coloca uns contra os outros, da ferida do pecado no coração das pessoas, cujas consequências fazem sofrer também a sociedade e a criação inteira", disse Francisco na sua homilia.

"É precisamente a este mundo desafiador que Jesus nos envia, e a nossa resposta não é fazer-nos de distraídos, argumentar que não temos meios ou que a realidade nos supera. A nossa resposta repete o clamor de Jesus e aceita a graça e a tarefa da unidade."

Mas esta unidade, segundo Francisco, "supõe a doce e reconfortante alegria de evangelizar, a convicção de que temos um bem imenso para comunicar e de que, comunicando-o, ganha raízes; e qualquer pessoa que tenha vivido esta experiência adquire maior sensibilidade face às necessidades dos outros."

"Daí a necessidade de lutar pela inclusão a todos os níveis, evitando egoísmos, promovendo a comunicação e o diálogo, encorajando a colaboração. É preciso confiar o coração ao companheiro de estrada, sem medo, nem desconfiança."

"É impensável que brilhe a unidade, se a mundanidade espiritual nos faz estar em guerra entre nós, numa busca estéril de poder, prestígio, prazer ou segurança económica", avisa ainda Francisco.

"Esta é a nossa revolução"
Terminando, Francisco sublinhou que a ideia de que o desejo da evangelização – que voltou a dizer que não é o mesmo que proselitismo – deve ser tão ou mais apaixonante que os movimentos de libertação política e nacional. "É tão urgente e premente como o daqueles desejos de independência. Possui fascínio semelhante, o mesmo fogo que atrai. Sede um testemunho de comunhão fraterna que se torne resplandecente!"

E com isto, conclui o Papa, se comprova que a fé cristã é também ela uma fé revolucionária, embora de natureza diferente. "Dando-se, o homem volta a encontrar-se a si mesmo com a sua verdadeira identidade de filho de Deus, semelhante ao Pai e, como Ele, doador de vida, irmão de Jesus, de Quem dá testemunho."

"Isto é evangelizar, esta é a nossa revolução – porque a nossa fé é sempre revolucionária – este é o nosso grito mais profundo e constante."

Esta é a segunda visita de Francisco à América do Sul, depois de ter ido ao Brasil em 2013, no ano em que foi eleito. Depois do Equador, Francisco ainda visita a Bolívia e o Paraguai.