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As mensagens de Quaresma dos bispos portugueses

31 mar, 2015 • Filipe d'Avillez

Com grande enfoque na importância da conversão e do combate contra a "globalização da indiferença", as mensagens dos bispos para a Quaresma e Páscoa de 2015 servem também para chamar a atenção para os mais necessitados das nossas sociedades.  

As mensagens de Quaresma dos bispos portugueses
Na recta final da caminhada quaresmal, a Renascença reúne todas as mensagens quaresmais dos bispos das dioceses portuguesas. Leia alguns das passagens mais significativas das mensagens.

Angra do Heroísmo
"A Quaresma será tempo favorável da misericórdia divina, na medida, em que formos misericordiosos uns para com os outros. Começando por quem mais precisa, mesmo que menos mereça. É que a verdadeira misericórdia é gratuita. Vence o mal com o bem." D. António de Sousa Braga

Aveiro
"A conversão exige mais penitência, jejum e partilha com as maiores necessidades dos irmãos e da Igreja. Neste ano, a nossa renúncia quaresmal terá como destino a nossa casa sacerdotal Santa Joana e os cristãos perseguidos do médio oriente, particularmente do Iraque e da Síria." D. António Manuel Moiteiro Ramos

Beja
"É em comunidade que acontece a conversão do coração à misericórdia, é na família de sangue e sobretudo na família de fé, na comunidade dos que acreditamos no amor de Deus manifestado em Jesus Cristo. Não se trata apenas de dizer que amamos a todos, trata-se de exprimir esse amor na realidade concreta das nossas relações, muito especialmente dando atenção aos necessitados e cuidando dos mais débeis. Espalhadas pelos espaços geográficos dos ambientes em que vivemos, há muitas pessoas esquecidas a precisar da nossa palavra amiga, da nossa companhia, da nossa oração e da nossa ajuda. Se somos cristãos, se o Espírito de Deus nos habita e dinamiza, não podemos ficar indiferentes!" D. António Vitalino, bispo de Beja, e D. João Marcos, bispo coadjutor

Braga
"A pureza da nossa alma é um bem tão essencial quanto a necessidade que temos de beber água pura. Em que sentido a nossa alma é pura? Podemos, é certo, remeter para a perfeita ausência do pecado. Creio, todavia, que a pureza deve aqui ser entendida como o constante dinamismo interior de conversão, como o desejo inflamado de sermos 'perfeitos como é perfeito o vosso Pai celeste' (Mt 5, 48). Pureza é ainda, nas palavras de Cristo, 'ser como as criancinhas' (Mt 18, 3), livres de maldade arquitectada, para assim entrarmos no Reino dos Céus." D. Jorge Ortiga

Bragança - Miranda
"A Quaresma tem o seu sentido na Páscoa de Cristo. Que as obras de Misericórdia que somos chamados a praticar nos consolidem na confiança de Deus e na Palavra da sua Graça. A sobriedade dos sinais exteriores nos enriqueçam interiormente para continuarmos a fazer o Bem, bem feito e que o nosso coração se converta na Palavra de Deus." D. José Cordeiro

Coimbra
"Para superar a indiferença e as nossas pretensões de omnipotência, gostaria de pedir a todos para viverem este tempo de Quaresma como um percurso de formação do coração. Ter um coração misericordioso não significa ter um coração débil. Quem quer ser misericordioso precisa de um coração forte, firme, fechado ao tentador mas aberto a Deus; um coração que se deixe impregnar pelo Espírito e levar pelos caminhos do amor que conduzem aos irmãos e irmãs; no fundo, um coração pobre, isto é, que conhece as suas limitações e se gasta pelo outro. Por isso, amados irmãos e irmãs, nesta Quaresma desejo rezar convosco a Cristo: 'Fazei o nosso coração semelhante ao vosso'." D. Virgílio do Nascimento Antunes

Évora
"Chegou a hora de pôr em prática as boas intenções do início do ano. A Quaresma, tempo especial de renovação interior, através da escuta da Palavra, da abertura do coração a Deus pela oração e pela ajuda generosa aos nossos irmãos, é o tempo propício para concretizarmos os bons desejos do nosso coração, iluminado pela fé e convertido ao Evangelho. Ora, por sugestão da Ajuda à Igreja que Sofre, que abriu uma delegação na cidade de Évora, o produto da nossa renúncia quaresmal este ano destina-se a ajudar os cristãos, perseguidos por causa da fé, nos países do Médio Oriente. São muitos milhares, de todas a idades incluindo crianças, e sofrem horrorosamente. Expulsos de suas casas, ficam privados de tudo. Reduzidos à miséria, morrem de fome e de frio, em situações verdadeiramente indignas de seres humanos. Porque somos seres humanos e porque somos cristãos, não podemos alhear-nos dessa realidade deplorável." D. José Alves

Faro
"A Quaresma vem recordar-nos, através dos insistentes apelos da Palavra de Deus, que somos chamados não só a experimentar e a celebrar a misericórdia de Deus, mas também a ser misericordiosos com os outros. A misericórdia, como resposta à misericórdia de Deus, é mais importante que os actos de culto. Transformar 'os lugares onde a Igreja se manifesta – as nossas paróquias e comunidades – em ilhas de amor e misericórdia no meio do mar da indiferença' é o desejo e apelo quaresmal do Papa Francisco na sua mensagem." D. Manuel Quintas

Ordinariato Castrense – (Diocese das Forças Armadas)
"Que ninguém se esqueça: só temos direito de usar o nome de cristãos se formos como Jesus Cristo é e se fizermos o que Ele faz."  D. Manuel Linda

Guarda
"Jesus Cristo, desde a sua encarnação, é o braço estendido de Deus ao encontro de toda a humanidade; e a Igreja tem o encargo de o tornar bem visível, diante do mundo, para salvação de todos. Para cumprir este mandato, ela tem de aprender a viver menos para si própria e mais voltada para fora, ao encontro do mundo e das pessoas, a quem se destina a Boa Nova de Cristo." D. Manuel Felício

Lamego
"Façamos, amados irmãos e irmãs, do tempo da Quaresma um tempo de diferença, e não de indiferença. Dilatemos as cordas do nosso coração até às periferias do mundo, e que o nosso olhar seja de graça para os nossos irmãos de perto e de longe. Façamos um exercício de verdade. Despojemo-nos, não apenas do que nos sobra, mas também do que nos faz falta. Dar o que sobra não tem a marca de Deus. Jesus não nos deu coisas, algumas coisas para o efeito retiradas da algibeira, mas deu por nós a sua vida inteira. Dar-nos uns aos outros e dar com alegria deve ser, para os discípulos de Jesus, a forma, não excepcional, mas normal, quotidiana, de viver." D. António Couto

Leiria-Fátima
"Precisamos de estar atentos, para que o perigo da indiferença não atinja também a família. É grande a tentação de transformar a casa da família em pensão ou residencial onde se tem cama, mesa, roupa lavada, repouso e conforto; ou viver todos juntos sob o mesmo tecto, mas indiferentes, não unidos em comunhão. Convido cada família a fazer um exame de consciência sobre quais os riscos e sinais de indiferença no seu ambiente familiar e o que melhorar na presença, na atenção e nas relações de uns com os outros. E ainda: como tornar a minha família aberta aos de fora e solidária com os necessitados. Será bom envidar os esforços necessários para fazer o retiro popular em família, mesmo adaptando-o porventura aos mais novos." D. António Marto

Lisboa
"Os crentes participam com os seus concidadãos 'nas alegrias e esperanças, nas tristezas e angústias' da sociedade que integram. Mas, exactamente por serem crentes, em tudo hão de estar com os sentimentos de Deus revelados em Cristo, isto é, com misericórdia que os aproxime de toda a pobreza e fragilidade, em comprovada presença e concreto apoio, correspondendo às multiplicadas carências dos outros. Pode haver, como legitimamente acontece, mesmo entre os discípulos de Cristo, diferenças na análise dos problemas e perspectivas distintas para a respectiva resolução. O que não pode haver é desistência ou atraso quanto ao essencial, que é responder com empenho às carências pontuais ou persistentes da sociedade que integram." D. Manuel Clemente

Portalegre – Castelo Branco
"Numa sociedade da indiferença, a hospitalidade pode mudar o mundo. De improviso ou preparada com antecedência, a hospitalidade valoriza a lógica do dom e antecipa-se, com generosidade e amor, às necessidades do outro. Desafia ao acolhimento das pessoas e disponibiliza-se para o caminho feito em comum. Valoriza o que une e torna efectiva a partilha de bens. Promove a troca de experiências e aprende com todas as situações. Dá a primazia e prioridade ao outro para que se sinta bem e cuida da fineza do trato e da fraternidade. Cria proximidade, responsabilidade e desafia à caridade." D. Antonino Dias

Porto
"Não deixemos de abrir a 'porta' do nosso coração! Só um coração forte, pobre e misericordioso, vigilante e generoso que se abre à oração, à conversão e à reconciliação compreende como é importante viver e ser Igreja de portas franqueadas a todos, aberta para a todos receber e por todos rezar, vencendo a indiferença com o amor. Mais do que lamentarmo-nos pelo declínio de uma civilização em fim de ciclo, que a violência, o terror, o medo e a pobreza indiciam, devemos ser capazes de iluminar o mundo com a luz transformadora que nos vem do amor misericordioso de Deus e renasce em cada Páscoa. Importa sentir que um futuro justo e solidário, de que a unidade dos cristãos e a comunhão da Igreja devem ser sinal e anúncio, não é um destino distante nem um caminho inacessível." D. António Francisco dos Santos

Santarém
"Ser cristão é ser discípulo missionário, é fazer caminho com o Senhor e irradiar a sua luz. Para nos tornarmos discípulos missionários, o primeiro e fundamental passo é o encontro pessoal com Cristo. De facto, o Senhor Jesus não é apenas uma pessoa do passado ou uma doutrina. É Alguém que está vivo e nos ama pessoalmente. Quando O encontramos a vida torna-se diferente. A partir desta experiência é que brota em nós a alegria e o desejo de nos aproximarmos mais d'Ele. No encontro descobrimos a presença invisível de Cristo que nos acompanha e a quem podemos recorrer com confiança. Como escreveu Bento XVI: 'No início do ser cristão não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com uma pessoa que dá à vida um novo horizonte e desta forma o rumo decisivo'". D. Manuel Pelino Domingues 

Viana do Castelo
"Na sua mensagem para a Quaresma deste ano, o Papa Francisco desafia-nos à luta contra a atitude egoísta da indiferença, que, segundo ele, 'atingiu uma dimensão mundial tal que podemos falar de uma globalização da indiferença' – um mal-estar em que qualquer um de nós pode cair: 'Encontrando-me relativamente confortável, esqueço-me dos que não estão bem'. É uma luta que se enraíza na nossa fé em Deus, a fé que somos convidados a aprofundar neste tempo favorável (2 Cor 6,2) da Quaresma e da Páscoa, em que Deus nos mostra como “não Lhe é indiferente o mundo, mas ama-o até ao ponto de entregar o seu Filho pela salvação de todo o homem." D. Anacleto Oliveira 

Vila Real
"A fé em Cristo brilha, na vida renovada do crente e mostra que a encarnação do Filho de Deus, que, por nós, se entregou à morte, não foi em vão, pois, glorificou a Sua própria humanidade assumida, no seio da Virgem, para mudar e glorificar também as vidas dos que crêem e a Ele se conformam. A novidade da Páscoa de Jesus reside na conversão, na renúncia ao pecado, à injustiça, à idolatria do auto-endeusamento, do dinheiro, do narcisismo e do desprezo dos outros, reduzidos a escravos descartáveis. Há que declarar a morte ao ódio, ao desprezo, à retaliação e à guerra. Não é lícito ferir, matar, ofender e fazer o mal, em nome de Deus, supremo bem, verdade e beleza. D. Amândio José Tomás

Viseu
"A Quaresma é o tempo de dizer não a tudo o que é supérfluo, fazendo a opção pelo que é, verdadeiramente, essencial: as pessoas, os outros, os irmãos – quaisquer que eles sejam. A Quaresma é o tempo de escutar e seguir a Voz que grita no interior, tornando-se o eco e o encontro de todos os gritos que clamam por vida, por amor, por paz, por justiça, por verdade. A Quaresma é o tempo de ver, de escutar e de seguir o Coração, mudando e encontrando critérios que sejam caminhos de novidade, na arte de ser feliz. A Quaresma é, na verdade, o tempo do Coração e a Pessoa Humana tem a medida do seu próprio Coração.  D. Ilídio Leandro