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Valorizar os caminhos de peregrinos como faz Espanha

29 jan, 2015 • Ângela Roque

É preciso sensibilizar as autarquias portuguesas para a importância dos caminhos de peregrinação, que podem ser dinamizadores das economias locais. O alerta é feito por Isabel Blanco Ferreira, delegada do Centro Nacional de Cultura para o Caminho do Mar.

O Caminho do Mar liga o Estoril a Fátima, atravessando um total de 11 concelhos. Daí, é possível seguir pelo Caminho do Norte, até Santiago de Compostela.
 
Depois do protocolo assinado entre o Centro Nacional de Cultura (CNC) e todas as câmaras, em Novembro de 2012, meses depois, em Abril de 2013, o caminho, de quase 200 quilómetros, foi “todo sinalizado, num só dia, com equipas de voluntários”, explica Isabel Blanco Ferreira, delegada do CNC.  

O que estão a fazer agora é colocar marcos, porque “dão outra visibilidade, dignificam mais o caminho, e até mesmo para a manutenção é mais fácil”.
 
“São marcos de pedra branca, aqui da Extremadura, com uma placa com o símbolo azul dos Caminhos de Fátima e outra com o símbolo amarelo dos Caminhos de Santiago. Isso já está desde a Igreja de Santo António do Estoril até à barragem do Rio da Mula, que é a fronteira entre o concelho de Cascais e o concelho de Sintra.”

Falta agora avançar nos outros concelhos. Isabel Blanco Ferreira diz que têm “esses pedidos todos feitos”  e que a despesa, para cada câmara, “ não ultrapassa os 300 euros”.
 
“Temos de acreditar que encaram este investimento como uma prioridade”, sublinha a delegada do CNC, para quem o Dia Nacional do Peregrino, recentemente criado, e que se assinala a 13 de Outubro, talvez ajude a mudar mentalidades e a ver que os caminhos de peregrinação são importantes para a economia locais, e até do ponto de vista social.

“Todos os caminhos estão a ser marcados fora de estrada, para retirar as pessoas das zonas de perigo, e atravessam povoações, para poder haver apoio logístico ao peregrino, para comprar um alimento, para dormir. Há muitas terreolas que os caminhos atravessam que já quase lá não vive ninguém, há muita desertificação”. Os caminhos ajudam a dinamizar essas localidades.
 
Isabel Blanco Ferreira lembra que no norte de Portugal, como em Espanha, já “têm os percursos devidamente sinalizados e limpos, e preocupam-se em construir albergues”. Essa é ainda uma das falhas do Caminho do Mar: “Ainda não existe qualquer albergue, e faz imensa falta. Tentámos que em Cascais se conseguisse construir um, com a ajuda do orçamento participativo, mas ainda não foi desta”, lamenta.
 
Como peregrina sabe que “os albergues têm uma mística especial”. Diz que os alojamentos turísticos “vão continuar sempre a ser necessários”, mas “o albergue tem um acolhimento diferente ao peregrino”, e havendo vontade não é difícil conseguir espaços, aproveitando pro exemplo antigas escolas desactivadas.
 
“Há sempre quem ofereça um frigorífico ou um pequeno electrodoméstico para aquecer uma refeição”, e dá de novo o exemplo do norte do país onde “já são as juntas de freguesia e as próprias câmaras” que têm pessoas voluntárias, ou até trabalhadores, que se encarregam de “passar lá uma vez por dia, fazer uma limpeza, em determinadas horas abrir o espaço ou fechar”.
 
Isabel Blanco Ferreira garante que cada vez há mais peregrinos: “De ano para ano aumenta aos 20%, porque cada vez as pessoas têm mais necessidade de se encontrarem consigo e serem testemunhas de fé”.

No seu caso, em Maio deste ano conta ir pela décima segunda vez a Fátima, e em Setembro pela décima vez a Santiago. Diz que é “um bom vício” e que, se mandasse, “todas as pessoas pelo menos uma vez na vida fariam uma peregrinação, porque nos transforma profundamente”. E convida que quiser pôr “a mochila às costas e os pés ao caminho” a fazer “gosto” na página do Caminho do Mar no Facebook, para que seja dado a conhecer a cada vez mais gente.
 
A entrevista a Isabel Blanco Ferreira foi transmitida no programa “Princípio e Fim”, da Renascença, no passado domingo.