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Papa pede a líderes muçulmanos que condenem o fundamentalismo e a violência

12 jan, 2015 • Aura Miguel

Francisco quer uma resposta "unânime" da comunidade internacional para travar a violência, "em defesa de quantos sofrem as consequências da guerra e da perseguição".

Papa pede a líderes muçulmanos que condenem o fundamentalismo e a violência
Francisco quer uma resposta "unânime" da comunidade internacional para travar a violência, "em defesa de quantos sofrem as consequências da guerra e da perseguição".
O Papa condenou esta segunda-feira os atentados que atingiram recentemente a França, o Paquistão e a Nigéria, bem como a acção do Estado Islâmico. Mas também pediu o fim do fundamentalismo e deixou um apelo aos líderes mundiais.

"Um Médio Oriente sem cristãos seria um Médio Oriente desfigurado e mutilado. Ao instar a comunidade internacional para que não fique indiferente a esta situação, espero que os líderes religiosos, políticos e intelectuais, especialmente muçulmanos, condenem qualquer interpretação fundamentalista e extremista da religião que tenda a justificar tais actos de violência", apelou perante os membros do corpo diplomático acreditados junto da Santa Sé, para o tradicional encontro de ano novo, no Vaticano.

Este fenómeno é consequência da "cultura do descarte" aplicada a Deus. "Na verdade, o fundamentalismo religioso, ainda antes de descartar os seres humanos perpetrando horrendos massacres, rejeita o próprio Deus, relegando-O a mero pretexto ideológico", disse Francisco.

Perante esta injusta agressão, que atinge os próprios cristãos e outros grupos étnicos e religiosos da região, o Papa apelou a uma resposta "unânime" da comunidade internacional que "detenha o alastrar das violências, restabeleça a concórdia e cure as feridas profundas provocadas pelos sucessivos conflitos".

Segundo o Papa, uma cultura que rejeita o outro rompe os vínculos mais íntimos e verdadeiros, acabando por dissolver e desagregar toda a sociedade, gerando violência e morte. "Encontramos um triste eco disso mesmo em numerosos factos referidos nas notícias quotidianas, como o trágico massacre que há dias sucedeu em Paris".

Humanidade vive uma "verdadeira guerra mundial"
A respeito da Nigéria, atingida por vários atentados, o Papa alertou para o "trágico fenómeno do sequestro de pessoas", muitas delas jovens raptadas para serem objecto de comercialização. "É um comércio execrável, que não pode continuar". Mas também evocou o ataque a uma escola do Paquistão, onde há um mês "foram trucidadas, com ferocidade inaudita", mais de 100 crianças.

Na sua intervenção, sustentou que a humanidade vive uma "verdadeira guerra mundial, combatida aos bocados", como na Ucrânia, Líbia, República Centro-Africana, Sudão do Sul e algumas regiões do Sudão, o Corno de África e a República Democrática do Congo.

Além disso, continua o Papa, é preciso não esquecer que as guerras trazem consigo outro crime horrendo que é a violação. "É uma ofensa gravíssima à dignidade da mulher, que é violada não só na intimidade do seu corpo mas também na sua alma, com um trauma que dificilmente poderá ser cancelado e cujas consequências são também de carácter social".

"Por isso, almejo um compromisso conjunto dos vários governos e da comunidade internacional, para que se ponha fim a toda espécie de luta, ódio e violência e se comprometa a favor da reconciliação, da paz e da defesa da dignidade transcendente da pessoa", defendeu. 

Também lembrou as vítimas da "terrível epidemia de ébola", as "vidas descartadas por causa das guerras ou das doenças", os deslocados e refugiados, os migrantes que "perdem a vida em viagens desumanas".

Ao lado das vidas descartadas por causa das guerras ou das doenças, "há as vidas de numerosos deslocados e refugiados", sublinha.

Os "exilados escondidos"
O Papa retomou um dos alertas do seu pontificado, alertando para os "exilados escondidos" no seio das famílias e sociedades: "Penso sobretudo nos idosos e nos deficientes, bem como nos jovens".

"Tudo isto é contrário à dignidade humana e deriva duma mentalidade que põe no centro o dinheiro, os benefícios e os lucros económicos em detrimento do próprio homem", precisou.

Depois, como "frequente objecto de descarte, temos também a família, por causa duma cultura individualista e egoísta, cada vez mais difundida, que rompe os vínculos e tende a favorecer o dramático fenómeno da queda da natalidade, e também de legislações que privilegiam outras formas de convivência, em vez de apoiar adequadamente a família para bem de toda a sociedade".

Entre as causas de tais fenómenos, conta-se uma "globalização niveladora que descarta as culturas próprias", eliminando assim os factores específicos de identidade de cada povo que constituem a herança indispensável na base dum são desenvolvimento social.