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Dia Mundial do Voluntariado

A estrela da cozinha que distribuiu comida na Comunidade Vida e Paz

05 dez, 2014 • Ângela Roque

Chef Kiko, conhecido por participar num programa televisivo, foi voluntário desde cedo. Trabalhou com idosos, presos em Caxias e sem-abrigo.

A estrela da cozinha que distribuiu comida na Comunidade Vida e Paz
Kiko Martins, um conhecido Chef de cozinha, descobriu a vocação quando distribuía comida com a Comunidade Vida e Paz, em Lisboa. Diz que Deus é a “gasolina” da sua vida, que o levou a ele e à mulher a passar o primeiro ano de casados em missão em Moçambique com os Leigos para o Desenvolvimento.

Casado, pai de dois filhos, ficou conhecido do grande público por participar no programa televisivo Chef’s Academy. Em entrevista à Renascença revela que atribui à educação que recebeu dos pais o interesse que sempre sentiu em ajudar os outros. Pertencer a uma família numerosa também ajudou: “Venho de uma família com oito irmãos em que percebemos a importância do outro, de sairmos do nosso umbigo e olharmos além, darmos atenção ao outro”.

Kiko, de 35 anos, foi voluntário desde cedo. Trabalhou com idosos, presos em Caxias e sem-abrigo, e foi assim que descobriu a vocação profissional. “Sou cozinheiro porque distribuía comida à noite com a Comunidade Vida e Paz, e através desse contacto, daquilo que a comida nos possibilita, de chegarmos aos outros, que percebi o que queria ser”.

Fazer algo radical
Para o Chef Kiko “a magia da cozinha não está em manipular ingredientes, está muito mais em sabermos fazer um prato saboroso, para nos podermos relacionar. A comida permite-nos estar uns com outros. E todos nós, portugueses, adoramos estar à mesa, faz parte da nossa cultura”. E para quem é cristão tem um significado especial, “porque Deus despede-se de nós e tem o seu momento mais importante numa mesa, com os seus amigos”.

Foi por partilharem os mesmos valores que Kiko e a mulher, Maria, não hesitaram em dedicar o primeiro ano de casados aos outros: “Tínhamos de fazer algo radical com as nossas vidas”.

Partiram “de forma desinteressada, mas com compromisso”, porque fazer voluntariado assim o exige. “Não podemos viver isto ao ritmo do sol, que às vezes brilha, outras vezes não. Se nos disponibilizamos temos de estar objectivamente disponíveis”.

Foram para Moçambique com os Leigos para o Desenvolvimento, uma organização ligada aos jesuítas, e foram em missão. “Digo sempre que não é apenas voluntariado, é voluntariado missionário. Eu sou o Kiko, sou um cozinheiro, mas acima de tudo sou um católico apostólico romano”.

Ao Chef Kiko coube dinamizar um centro paroquial ligado à igreja local. Fez acções de formação sobre sida, aulas sobre internet, tertúlias, deu catequese. A mulher fazia a ligação entre o pároco e os professores locais.

A experiência só os enriqueceu. “Como casal foi uma experiência brutal”, sublinha.

A vida corria a outra velocidade, mas foi sobretudo a pobreza que viu que mais o marcou. “A miséria é algo que nos toca, dá uma tristeza muito profunda e difícil de traduzir por palavras”. E quando se regressa volta-se diferente? “Dá-nos uma capacidade muito maior de valorizar o que temos. Sinto-me um felizardo”.

Receita para a felicidade?
O Chef Kiko diz que a fé é a única gasolina da sua vida. “As outras são pequenas forças diárias, agora a fé é uma gasolina, é motor, é aquilo que dá sentido, é aquilo que me faz viver”.

“Tenho uma relação muito próxima com Deus, como um amigo, como um confidente, alguém com quem partilho ideias, opiniões, alguém que me acompanha a correr, a fazer surf, a cozinhar, alguém que me acompanha nas dificuldades e alegrias que tenho em casa e nas dificuldades de educar os filhos”, diz.

“Deus é um amigo, é alguém que está sempre ao meu lado, quer eu lhe ligue quer não lhe ligue, o que é uma coisa fantástica, e acho que temos poucos amigos assim. A maior parte dos amigos cobram-nos, e às vezes até se perde o sentido da amizade como algo livre, e acho que Deus é isto, é alguém que me ama tão profundamente que me dá tudo de forma livre e gratuita”. E admite que esta talvez seja a sua “receita” para a felicidade.

A entrevista ao Chef Kiko vai ser transmitida no programa “Princípio e Fim” da Renascença, no domingo, a partir das 23h30.