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Escuteiros negam ter ocultado informação sobre alegado pedófilo

13 nov, 2014 • Ângela Roque

Dirigente foi detido em Setembro por suspeita de posse e divulgação de pornografia infantil e de abusos. Apareceu morto na sua cela em finais de Outubro.  

Os escuteiros desmentem ter ocultado qualquer informação sobre o antigo dirigente do Agrupamento de Belém, em Lisboa, detido por suspeita de pedofilia, e que morreu na prisão.

Sofia Serranito, a porta-voz do Corpo Nacional de Escutas (CNE), garante que nunca foi recebida qualquer queixa contra o antigo dirigente e que a Judiciária nunca confirmou a existência de vítimas entre os escuteiros.

A porta-voz estranha, por isso, que um jornal diário tenha avançado, nesta quinta-feira, na primeira página, que o CNE quis abafar o caso: “Nunca abafámos nada, porque não temos conhecimento de qualquer facto que tenha ocorrido dentro do movimento, nunca recebemos qualquer queixa.” Sublinhando não ter havido qualquer informação da parte da Judiciária sobre actos cometidos no âmbito dos escuteiros, Sofia Serranito diz que “formalmente o CNE sabe é que houve um antigo dirigente que esteve detido e faleceu. Sabemos as acusações que pendem sobre ele, que são a posse e divulgação de material de conteúdo pornográfico e de eventuais abusos de cariz sexuais sobre menores.”

O CNE não sabe se o material de cariz pornográfico envolve crianças escuteiras, nem se houve vítimas de abuso entre os escuteiros, mas está a insistir junto da Judiciária para que esses dados sejam veiculados. “Ainda hoje já falamos com eles duas vezes, a postura continua a mesma, não nos dão, não nos podem dar qualquer informação nesse sentido”

Judiciária impediu CNE de informar pais
A porta-voz do CNE garante que as autoridades foram contactadas mal se soube da detenção do suspeito, dois dias depois de esta ter ocorrido e adianta que foi a Polícia Judiciária que impediu o CNE de informar os pais do Agrupamento em causa, para não prejudicar a investigação. “A nossa primeira medida foi contactar as autoridades e colocarmo-nos ao dispor para colaborar com as investigações, o que quer que fosse que pudesse ajudar a esclarecer a verdade sobre o assunto.”

O “Correio da Manhã”, na sua edição desta quinta-feira, dá conta da revolta dos pais dos escuteiros, por não terem sido alertados pela instituição. Mas o CNE aponta o dedo à Judiciária.“Tentámos desde o primeiro dia que a Polícia Judiciária nos autorizasse a falar com os pais, no entanto fomos peremptoriamente obrigados a não o fazer, e tivemos de manter o silêncio durante este mês. A Judiciária obrigou-nos a não comunicar aos pais”.

O contacto com os pais acabou por acontecer no passado domingo, já depois de se saber que o suspeito tinha morrido na prisão.

A porta-voz lembra que no movimento escutista todos estão sensibilizados para estarem alerta para eventuais situações suspeitas, e que: “Todos os associados que pretendem ser dirigentes têm de apresentar o registo criminal e têm de ter o aval de dois outros dirigentes que atestem a sua idoneidade”. No Agrupamento de Belém “nunca houve qualquer suspeita de que algo de errado se tivesse passado”.

Para além de ser chefe de escuteiros o suspeito também trabalhava em diversas escolas de Lisboa, e organizava campos de férias. Detido em Setembro por suspeita de envolvimento numa rede internacional de pedofilia, apareceu morto na prisão no final de Outubro.