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Igreja não "julga" Maynard, mas diz que não há dignidade no suicídio

04 nov, 2014 • Filipe d'Avillez

Os vários apelos à jovem americana para não se matar foram em vão. Brittany pôs fim à sua vida no sábado.

Igreja não "julga" Maynard, mas diz que não há dignidade no suicídio
A Igreja Católica lamentou a decisão da americana Brittany Maynard de pôr fim à sua própria vida, recorrendo à eutanásia, afirmando que não há "dignidade" no suicídio.
A americana, de 29 anos, decidiu pôr fim à vida quando foi diagnosticada com cancro terminal do cérebro, invocando o direito a uma "morte digna". Para o fazer, mudou-se para o Estado de Oregon, onde o suicídio assistido é legal, e marcou o dia da sua morte para o último sábado, 1 de Novembro. Nesse dia tomou um medicamento letal, receitado por um médico, e morreu em casa.
Esta terça-feira o presidente da Pontifícia Academia para a Vida, do Vaticano, lamentou a decisão de Maynard. "Não julgamos as pessoas, mas o gesto é para se condenar", afirmou monsenhor Ignacio Carrasco de Paula.
"O suicídio assistido é um absurdo porque a dignidade é outra coisa, e não colocar um fim à própria vida", disse à agência ANSA.
A carta de um seminarista
A decisão de Maynard galvanizou os defensores da legalização da eutanásia, sobretudo nos Estados Unidos, com muitas organizações a prometer iniciativas legislativas ao longo do próximo ano.
Mas na mesma medida os movimento "pró-vida" têm condenado a decisão de Maynard, que implicitamente, com a sua decisão, dá a entender que a doença e os seus efeitos retiram a dignidade a quem delas sofre.
Um seminarista de 30 anos, que também tem cancro incurável e inoperável no cérebro, escreveu uma carta aberta a Maynard, no dia 22 de Outubro, em que a encorajava a valorizar a sua vida, dizendo: "Gradualmente vou perder o controlo das minhas funções corporais, ainda novo, devido a paralisia e incontinência e é muito provável que as minhas capacidades mentais desapareçam, levando a confusão e alucinações antes da minha morte. Isto aterroriza-me, mas não diminui a minha humanidade."
"A minha vida significa algo para mim, para Deus, para a minha família e amigos e, salvo alguma recuperação milagrosa, continuará a significar algo ainda depois de eu estar paralisado numa cama de hospital. A minha família e os meus amigos amam-me por aquilo que eu sou, não apenas pelos traços da minha personalidade que lentamente desaparecerão à medida que o tumor progride e me mata", escreveu Philip G. Johnson.
O seminarista, que foi apenas uma das muitas pessoas que procurou convencer Maynard a mudar de opinião, disse ainda que a americana iria perder momentos importantes da sua vida: "Infelizmente, a Brittany vai perder alguns dos momentos de maior intimidade da sua vida - o conforto dos seus entes queridos durante o seu sofrimento, os últimos e mais pessoais momentos com a família e o grande mistério da morte - tudo por troca com uma opção 'indolor' que se preocupa mais consigo do que com os outros. Na nossa cultura, que procura evitar a dor a qualquer custo, é normal que esta seja uma resposta comum por parte de quem sofre."