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Islamitas recuam em Kobani após intensificação de raides aéreos

16 out, 2014 • Filipe d’Avillez

As forças curdas que defendem a cidade conseguiram finalmente passar à ofensiva, recuperando pontos estratégicos que há pouco tempo eram controlados pelos islamitas.

Os combatentes do Estado Islâmico foram obrigados a retirar de vários pontos estratégicos na cidade de Kobani, e arredores, devido à intensificação dos raides aéreos por parte da coligação liderada pelos Estados Unidos.

Kobani fica na fronteira da Síria com a Turquia, em pleno Curdistão. Há cerca de um mês que a cidade está sitiada pelos islamitas, que possuem mais homens e melhor armamento que as milícias curdas que a defendem.

Há cerca de dez dias o primeiro-ministro turco vaticinou a queda de Kobani, dizendo que os ataques aéreos não seriam suficientes para travar o avanço do Estado Islâmico, mas a resistência dos curdos revelou-se muito mais feroz do que se esperava, permitindo aguentar a situação até que uma forte intensificação dos ataques aéreos, cerca de 40 raides nos últimos dois dias, lhes permitiu finalmente contra-atacar e recuperar terreno, incluindo alguns pontos estratégicos.

As Unidades de Defesa Populares (YPG) curdas têm sido muito elogiadas na imprensa internacional e nas redes sociais. Recorde-se que quando o Estado Islâmico atacou Mossul, no Iraque, o exército iraquiano, treinado e armado por americanos, fugiu, deixando para trás material de guerra topo de gama e muitos homens que foram prontamente executados pelos islamitas.

Kobani tornou-se, assim, uma referência e um símbolo da guerra contra o terrorismo islâmico que já causou tantos estragos no Iraque e na Síria.

Por outro lado, o exército e o Governo turco têm sido alvo de críticas. A Turquia tem um grande contingente militar em estado de alerta do seu lado da fronteira, mas os soldados têm-se limitado a observar o conflito em Kobani, recusando-se a intervir para proteger a cidade dos islamitas. Mais, os turcos têm recusado permitir a entrada de armas para reforçar o YPG.

A situação pode explicar-se pela desconfiança do Governo de Ancara para com o YPG, que é próximo do PKK, o partido curdo, considerado um grupo terrorista pelos turcos, que luta há décadas pela independência do Curdistão.

Relatos como o publicado pelo jornal inglês “The Guardian”, esta semana, dão conta de combatentes curdos deixados para morrer na fronteira, apesar de terem ferimentos cujo tratamento seria fácil. Num caso um militante curdo viu três dos seus camaradas morrer a metros de segurança, quando já estavam mortos os soldados turcos abriram a fronteira e disseram que já podia passar.

A Turquia, contudo, nega quaisquer acusações, recordando que já acolheu cerca de 200 mil refugiados da guerra na Síria e dizendo que não quer intervir unilateralmente na guerra civil da Síria, preferindo partilhar esse risco com uma coligação. Contudo, os turcos só aceitam participar numa coligação, fornecendo as forças terrestres, caso o objectivo imediato passe pela deposição de Bashar al-Assad. Já os americanos, que lideram a coligação já existente, mas que recusam enviar tropas para o terreno, dizem que a prioridade é combater o Estado Islâmico.