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Papa recorda mártires e encoraja os jovens da Albânia

21 set, 2014 • Filipe d’Avillez

Francisco referiu a forma como o regime comunista tentou “fechar a cadeado” o país, negando a Deus e impedindo a liberdade religiosa.  

Papa recorda mártires e encoraja os jovens da Albânia
O Papa Francisco recordou este domingo os muitos albaneses que morreram pela fé durante os anos negros do regime comunista, que durou cerca de 50 anos.

Durante a homilia que proferiu na Praça Madre Teresa, em Tirana, o Papa evocou a memória dos muitos fuzilados pelo regime, e não só os católicos, durante as “Décadas de sofrimentos atrozes e duríssimas perseguições contra católicos, ortodoxos e muçulmanos”.

“Podemos dizer que a Albânia foi uma terra de mártires: muitos bispos, sacerdotes, religiosos e fiéis leigos pagaram com a vida a sua fidelidade. Não faltaram testemunhos de grande coragem e coerência na profissão da fé. Muitos cristãos não cederam perante as ameaças, mas continuaram sem hesitação pelo caminho abraçado.”

A crítica ao regime comunista foi clara, com o Papa a comparar esta às casas, na passagem do Evangelho lida, que fecharam as portas aos apóstolos: “Ao longo dos séculos, nem sempre o anúncio da paz, trazido pelos mensageiros de Jesus, era acolhido; às vezes, as portas fecharam-se. Num passado recente, também a porta do vosso país se fechou, cerrada com o cadeado das proibições e prescrições de um sistema que negava Deus e impedia a liberdade religiosa.”

“Aqueles que tinham medo da verdade e da liberdade tudo fizeram para banir Deus do coração do homem e excluir Cristo e a Igreja da história do vosso país, embora este tenha sido um dos primeiros a receber a luz do Evangelho.”

De facto, há relatos de São Paulo ter evangelizado na zona que agora é a Albânia e sabe-se que a Igreja está implantada no território desde o século V. O Papa fez referência a estas raízes num curto improviso no final da homilia. Pegando na imagem da águia que é o símbolo nacional da Albânia, Francisco pediu aos fiéis para não se esquecerem nunca do seu "ninho", de onde vêm e do seu passado. Esta memória deve ter presente mesmo as épocas mais difíceis, como a perseguição, que Francisco descreveu como "chagas". Mas Francisco insistiu que embora estas questões não devam ser esquecidas, não devem também servir de desculpa para ressentimentos ou "vinganças".

No final da celebração, a que assistiu uma grande multidão, o Papa dirigiu-se de forma especial aos jovens, nas palavras que antecederam a oração do Angelus: “Queridos jovens, vós sois a nova geração da Albânia. Com a força do Evangelho e o exemplo dos mártires, sabei dizer não à idolatria do dinheiro, não à falsa liberdade individualista, não às dependências e à violência; e, pelo contrário, sabei dizer sim à cultura do encontro e da solidariedade, sim à beleza inseparável do bem e da verdade; sim à vida gasta com ânimo grande, mas fiel nas pequenas coisas. Deste modo, construireis uma Albânia melhor e um mundo melhor.”

A Albânia é um dos poucos países europeus que é de maioria muçulmana, mas beneficia de um clima de saudável convivência religiosa entre essa maioria e as significativas minorias católicas e ortodoxas que também habitam no país.

Este facto tem sido realçado pelo Papa durante a sua visita, sobretudo num tempo em que se multiplicam os conflitos inter-religiosos, sobretudo em países de maioria muçulmana, como o Iraque, a Síria e a Nigéria.

Esta tarde Francisco encontrar-se-á também com representantes das diversas comunidades religiosas do país.

A ameaça dos extremistas islâmicos pesa também sobre esta visita, contudo. Apesar de a Santa Sé ter desvalorizado os avisos do embaixador do Iraque em Roma de que o grupo Estado Islâmico quer matar o Papa, a verdade é que as medidas de segurança na Albânia são superiores ao costume, com as redes de telemóvel cortadas, por exemplo. São também visíveis atiradores da polícia albanesa nos telhados dos edifícios circundantes à Praça Madre Teresa, onde se celebrou a missa. Todavia o Papa Francisco insistiu em viajar no seu "papamóvel" habitual, que é descapotável, para poder estar mais próximo dos fiéis.