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Bispos alertam Bruxelas para o fim do cristianismo no Iraque

11 jul, 2014 • Ajuda à Igreja que Sofre

O avanço dos radicais do Estado Islâmico coloca em perigo uma comunidade que reside no país desde o início do cristianismo, mas que hoje numera poucas centenas de milhares de pessoas.

Bispos alertam Bruxelas para o fim do cristianismo no Iraque
Massacre de 31 de Outubro 2010
Os arcebispos de Bagdade, Mossul e Kirkuk alertaram as autoridades europeias para o agravamento da situação no Iraque e para o risco, cada vez mais iminente, do fim da presença cristã neste país.

A violência que se vive actualmente no Iraque, especialmente por causa da ofensiva militar do Estado Islâmico, conhecido anteriormente pela sigla ISIL ou ISIS, está a reduzir ainda mais a já pequena comunidade cristã iraquiana.

Os três prelados, Louis Raphael Sako, de Bagdad, Yohanna Petros Mouche, de Mossul, e Youssif Mirkis, de Kirkuk, explicaram às autoridades europeias que a comunidade cristã tem vindo a diminuir drasticamente no Iraque, por causa das guerras e de conflitos sectários, tendo passado de 1,5 milhões de crentes, antes da invasão liderada pelos Estados Unidos, em 2003, para apenas cerca de 400 mil agora.

Neste encontro, na passada quarta-feira, promovido pela Fundação AIS, os três arcebispos procuraram sensibilizar os dirigentes da União Europeia para a necessidade urgente de se apoiar a multidão de novos refugiados oriundos das zonas controladas pelo Estado Islâmico, um grupo radical sunita que conquistou Mossul e pretende tomar a própria capital iraquiana, Bagdad.

“Os próximos dias vão ser muito maus. Se a situação não mudar, os cristãos vão ser apenas uma presença simbólica no Iraque”, disse o arcebispo Louis Sako. “Caso este êxodo continue, terminará a história do cristianismo no Iraque”, acrescentou.

Por sua vez, o Arcebispo de Mossul explicou aos dirigentes comunitários como a vida se tornou praticamente impossível desde que esta cidade caiu nas mãos do Estado Islâmico no mês passado.

A fama de violência que rodeia este grupo islamita levou a que cerca de 500 mil pessoas tivessem fugido da cidade, entre os quais a esmagadora maioria da comunidade cristã. Segundo este prelado, neste momento não há água em Mossul, nem praticamente electricidade. “Há apenas medo", disse.

O mesmo se passa em Kirkuk, segundo Youssif Mirkis, apesar de estar na região curda, mais segura, assiste-se à debandada de “centenas de cristãos todos os dias”.

Para este Arcebispo, a causa principal para a fuga dos cristãos tem de ser encontrada no “ambiente de pânico” que se verifica entre a comunidade. “São poucos os cristãos que ainda projectam a sua vida e o seu futuro no Iraque.”

Os três prelados procuraram explicar também aos responsáveis políticos de Bruxelas que os cristãos no Iraque são, hoje em dia, o grupo religioso mais fragilizado perante a erupção do conflito armado. “Ao contrário dos sunitas, xiitas e curdos, os cristãos não têm milícias para se protegerem.”

E não é só no Iraque que isto está a acontecer. Desde a proclamada “Primavera Árabe” que os cristãos têm vindo a ser vítimas do poder crescente dos radicais islâmicos como o Estado Islâmico.

Este grupo radical, que pertence à órbita da Al-Qaeda, declarou a instauração de um califado nas regiões que controla e que se estendem desde certas zonas da Síria, nomeadamente a cidade de Raqqa, até ao Iraque, tendo já conquistado Mossul, a segunda cidade mais importante do país.

Na passada segunda-feira, duas religiosas e três crianças foram sequestradas em Mossul em plena luz do dia. Louis Sako informou ainda os dirigentes da União Europeia que as igrejas cristãs foram fechadas ao culto em Mossul.